Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Capitalismo das cavernas (Page 3 of 6)

A única solução. Retirado do texto The Dynamics of Doom: Why the Eurozone Fix Will Fail, por Charles Hugh Smith.

The only real solution to the Eurozone end-game is massive debt forgiveness and the resulting destruction of “too big to fail” banks, and a return to national currencies, which will enable structural imbalances to be resolved via currency devaluations. This will of course destabilize the German export economy; but that is inevitable.

“Extend and pretend” is an endgame, not a fix.

 

Saúde pública e o lugar-comum do problema de gestão.

Um resquício interessante de positivismo é o discurso que aponta os problemas de gestão como pontos centrais. Quase cento e sessenta anos depois do surgimento da ideologia que aceitava ser chamada assim, ela continua a servir de mote aos que chamam atenção para os detalhes e – agora – não querem ser classificados como ideológicos.

O pessoal que aponta os problemas de gestão pretende que não há problemas de outra categoria, ou seja, que tudo passa por administrar os recursos de forma ótima, por definir estratégias, por reduzir os custos unitários das utilidades produzidas e oferecidas.

O encanto que a ideologia tinha nos seus inícios é quase o mesmo que vem gerando hoje, embora não se oponha, presentemente, às escatologias. Ela própria, a ideologia positivista, tornou-se salvífica, o que significa que se transformou no que era para ser: uma religiosidade com traços de ciência.

Quando se enfatiza a gestão de alguma coisa desvia-se o olhar das escolhas que devem acontecer previamente. Sim, porque a gestão é, de certa forma, a negação da política ou a política a negar-se. Ou seja, quem fala em gerir deixa de falar em escolher.

Não estou a negar a possibilidade de ganhos de eficiência, sejam marginais, sejam grandes, que os processos e serviços possam ter. Mas, a dizer que é preciso antes escolher os serviços que se querem oferecer e gastar o necessário. Percebe-se que o discurso enfatizador da gestão também é, de certa forma, negador dos preços e profundamente religioso no que tem de promessa de êxito incondicionado.

O Brasil gasta menos de 04% de seu PIB com o Sistema Único de Saúde, o que é insuficiente para custeá-lo, excepto se se reduzirem as metas de universalização.Basta comparar o dispêndio brasileiro com os valores de outros países mantenedores de sistemas universais para observar a insuficiência de recursos destinados a saúde pública aqui.

Daí que os problemas evidentes de má gestão sejam colocados em primeiro plano, para que não se pense nas decisões de onde o estado deve gastar. O discurso só funciona se for aplicado isoladamente a tais e quais áreas, sem a interligação evidente que a política faz supor. Por exemplo, a decisão de gastar-se mais em saúde pública ou, antes, de gastar-se mais na remuneração dos rentistas não se aborda, nem se resolve a partir de modelos de gestão.

Aliás, a opção de pagar-se muito em renda do dinheiro pretende-se amparada em uma ciência oculta ou, melhor dizendo, em uma pseudo-ciência que oculta sua natureza real de predação misturada em modelos matemáticos. O problema destes últimos é que o modelado tem realidade própria e sempre de acordo à vontade prévia dos modeladores.

O modelo reproduz uma vontade; ele não antevê uma possibilidade do real. Todavia, tem que se afastar a todo custo dessa palavra vontade, porque ela representa e é representada pela palavra política. Ora, em política nada é impossível, inevitável ou obedece a sólidos limites prévios. O âmbito político tem a dinâmica do imprevisto e do incondicionado, tem uma abertura que não se apreende muito simplesmente pelos modelos.

Ele precisa então ser substituído pela gestão, essa forma de farisaísmo anacrônico, em que uma classe sacerdotal maneja processos indiscutíveis, de origens imperativas e finalidades desconhecidas. É interessante observar que, relativamente às finalidades, as coisas vão se esfumaçando mais e mais, quando são analisadas a partir da perspectiva de gestão, até que o fim confunda-se com os meios.

Esse discurso com ênfase na gestão é parente colateral imediato daquele que afirma não haver mais ideologias, não haver direita nem esquerda. São discursos que pretendem instalar a idéia da falta radical de opções, da inexistência de alternativas, ou seja, da política previamente condicionada e exercida pela classe sacerdotal merecedora de ratificação automática do povo distante.

Esse feixe ideológico que nunca aceita a marca ideológica é um subproduto curiosíssimo do liberalismo. Trata-se de um direitismo clerical, que não se confunde com aristocracia ou tecnocracia. A falta de identidade é sua marca, uma não-marca é seu emblema.

Ele é cool  pelo que apresenta de negativas reivindicadas como signos de sua modernidade: ele não é de esquerda, não é de direita, não é uma ideologia, não é uma ciência, não é uma ditadura, não é tampouco o que chamará de velha democracia, não é contra ninguém, não é coisa de políticos…

É fascinante que uma coisa assim tão religiosa, tão evidentemente teocrática, seja chique, hoje! Sim, hoje que a religiosidade que atendia pelo nome de socialismo soviético foi decretada superada, inviável, impossível, anti-natural e outras qualificações negativas mais.

Fascina, mas não pode surpreender, porque a face religiosa de alguma política e ideologia tem que opor-se a outra religiosidade, da mesma forma que os trens podem ir em sentidos diferentes, mas nunca fora dos trilhos.

Assim, não surpreende que a gestão seja o discurso do político que não quer fazer política e, portanto, não quer falar em opções. Ele quer partir de imperativos categóricos e discutir todas as lateralidades de algum processo em andamento; terá que evitar, a qualquer custo, que se pense em outros processos. E, como não poderia ser diferente, recorrerá à desonestidade intelectual.

Ele dirá que mais ou menos do mesmo é o diferente ou engendrará o diferente. Ele fará crer que pequenas diferenças quantitativas acarretam diferenças qualitativas, o que é falso, de falsidade conhecida pelos clérigos nas posições mais elevadas. Eles sabem, os graduados, que a mudança quantitativa somente é qualitativa quando é imensa nas grandezas.

Por essas coisas, é anátema algum sujeito dizer que se gasta pouco com saúde e muito com juros, por exemplo. Tal proposição foge ao modelo, sugere opções que não implicam a gestão, senão como instrumento posto no seu lugar de simples instrumento. Ela não aceita sua condição instrumental, porque quer uma condição de revelação.

Pobreza, pobreza, pobreza…

Vez e outra, visto umas calças velhas, camisa idem, tênis mais velho ainda, deixo os documentos na gaveta, tiro o relógio do pulso, ponho algum dinheiro no bolso e saio a andar, sempre pela manhã, cedo. Não tiro a aliança do dedo, mas talvez fosse bom, porque se ma pedirem não a conseguirei retirar com a rapidez conveniente ao ladrão, que pode então resolver leva-la com o dedo junto.

É coisa de doido, sei bem disso, gostar de andar assim meio à toa. Só não é completamente à toa, porque sempre acabo nalgum mercado, compro bananas, laranjas, saio e torno a andar. Não é a caminhada dos caminhantes desportistas, é a caminhada que me apraz, simplesmente. E ando a olhar as coisas como se ainda descobrisse nelas qualquer tracinho de desconhecido, pois é bom surpreender-se com o velho.

E olho as pessoas também, é claro. As pessoas e as coisas aqui formam retratos tristes. Feios, melhor diria, sem arrodeios maiores. Pobres sem terem sido senão pobres, sempre pobres. As ruas e calçadas sujas, repletas de buracos. Os edifícios, com raras exceções, feios, mal alinhados, sujos.

O país enriquece há oito anos, continuadamente. A distribuição das riquezas melhora, discretamente, como nunca tinha acontecido. Milhões de pessoas foram elevadas ao que se chama classe média, coisa que é bom definir: segundo o Ipea – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – é quem tem renda familiar mensal entre R$ 1.000,00 e R$ 4.000,00. Todavia, é um mar de pobreza!

Curiosamente, na fila do mercado, hoje, estava o jornal do dia com uma matéria sobre os percentuais de gente na tal classe média. Na Paraíba, 37% da população está na classe média, o que é a segunda menor proporção do país.Não significa necessariamente que este seja o segundo estado mais pobre do país, mas é quase isso.

Ora, se somarmos aos 37 outros 03% dos que se encontram mais acima, ficamos com 60% de pobres e miseráveis! A propósito destes últimos, convém dar a definição técnica, que é das poucas definições técnicas, com números, capazes de escandalizar quem pense. Não digo quem se emocione com as coisas, digo quem pense. Bem, miserável é o sujeito que tem renda mensal inferior a R$ 70,00. E há 16 milhões de miseráveis no Brasil!

Antes de pensar que a proporção de pobres nem é tão elevada, lembre-se, quem a isso se inclinar, que a renda de corte é ridiculamente baixa e que tudo neste país é caro. Alias, nem tudo é caro, pois o preço do trabalho é baixo, excepto no serviço público e nos serviços de saúde. Os restantes preços são todos elevados, principalmente dos manufaturados. São caros também os imóveis e a comida.

E há quem ache, de achar mesmo, sem disfarces, que a melhora na distribuição não é assunto sério. E há quem ache que a miserabilidade é qualquer coisa semelhante a uma opção pessoal, algum diletantismo de vagabundo que se alimenta de ar e luz.

O quadro é daqueles terminados sem verniz, quando se acrescenta à pobreza a deseducação generalizada. Essa, é a coisa mais democrática que há no Brasil, pois atravessa todas as classes sociais. Todavia, os miseráveis são cobrados por sua deseducação; são cobrados por quem é deseducado na mesma proporção, diferindo somente nos rendimentos!

Todavia, há prédios imensos e reluzentes, condomínios residenciais suburbanos no estilo do sonho norte-americano, Land Rovers e Mercedes por todos os lados. É óbvio que o dinheiro existente roda à volta das mesmas pessoas, sempre. Também é óbvio que essas pessoas vivem eterna deformação, que cercadas de pobreza e feiúra são elas pobres e feias, mesmo que viajem a Miami para comprar o chapéu daquele rato bobo.

O Brasil toma o remédio antes da doença.

A propaganda do estilo de vida norte-americano e, em menor escala, do europeu, fez crer que esse é um padrão a que todos poderão aceder, bastando para tanto vontade, trabalho e adoção de certas regras. Óbvio que isso é mentira e que os divulgadores principais dela sabem-no.

Mas, isso vende-se e compra-se. O fato é que padrões de consumo como o norte-americano são inviáveis, exceto se 90% do mundo continuar a viver em privações e miséria.

Há uma questão de finitude – que não se confunde com maltusianismo puro – inescapável. Finitude de recursos naturais. O caso mais evidente é o petróleo, que se gasta demasiado no modelo de consumo elevadíssimo.

A única solução, exceto, é claro, a continuação da espoliação, é o empobrecimento seletivo dos mais ricos. Digo assim para escandalizar mesmo, embora o dito encubra maiores sutilezas e nuances.

Trata-se de nivelar por baixo e não porque seja um projeto mesquinho, mas porque nivelar por cima é impossível e quem afirma a possibilidade sabe que está mentindo ou é simplesmente um tolo a repetir o que ouviu dizer.

O gasto de uns é de coisas que vieram de outros. Para que o gasto seja elevado, os vendedores devem entregar o que têm a baixo preço. Se o que uns vendem vai escasseando e eles não aumentam o preço ocorre o empobrecimento geral e aumenta o ritmo do esgotamento de recursos naturais.

Se eles aumentam os preços e os compradores não os invadem para levar a preço zero, as coisas equilibram-se mais, equalizam-se por baixo, e o consumo diminui.

Essa receita, mais dia, menos dia, tem que se aplicar. Ou seja, os preços têm que aumentar para aqueles que sempre consumiram excessivamente e a preços baixíssimos riquezas finitas que foram produzidas por ninguém, como é o caso do óleo. Se isso será feito, em escala mundial, dirá o futuro.

Estranho é que o Brasil comporte-se como rico quando ainda é pobre e pague preço de rico quando ainda é pobre. Aqui, tudo é caro, principalmente porque a enorme maioria é paupérrima. Não se trata aqui de repercutir discurso hipócrita dos predadores reclamando da predação que fazem a favor de si mesmos.

Trata-se de dizer que, quando tudo é caro, é mais caro para os mais pobres. Eles estão pagando um preço por algo que não usufruiram, ou seja, tomam o remédio antes de adoecerem.

Mercados aliviados, Sarkozy e Merkel sorridentes….

Esse negócio que sai nos jornais com o curioso nome de plano de ajuda – ou de resgate – à Grécia, foi aprovado. O governo grego vai tomar emprestados mais cento e tantos milhões, ou são mil milhões,  de euros e a falência formal é adiada mais uma vez.

Nos EUA, Obama vai cedendo, a pouco e pouco, e as coisas tendem ao desfecho previsível: o limite de endividamento aumenta e todo o dinheiro arrecadado com impostos, pagos somente pelos mais pobres, vai para os bancos.

Nesse Brasil de meu Deus – como diria meu querido Rafael – o representante unificado dos grandes bancos resolve que o Estado deve pagar 12,5% de juros anualizados por seus títulos. Uma linda política monetária, resolvida para manter a inércia da drenagem de dinheiro da imensa maioria para os credores.

Uma política bela, que faz de nossa moeda uma das mais valorizadas do mundo, em um país que tem caríssimo e ruim; sim, ao mesmo tempo. É aquela estória de que o mundo vai acabar-se – e pode mesmo – e nós corremos riscos imensos e por isso temos que ter a maior taxa de juros do mundo. Isso, mesmo que a inflação esteja sob controle, mesmo que a dívida pública não passe de 56% do PIB…

Mandam os bancos. E fazem-no por toda parte, seja onde os bancos centrais são privados, como nos EUA, seja onde são aparentemente públicos, como na Europa e no Brasil.

Há uma questão interessante nisso tudo, que pode gerar problemas à medida que as coisas complicam-se. Os bancos pagam-se em dinheiro, em promessas de pagamento – que são a mesma coisa, afinal – ou em coisas mais reais, como produtos, recursos naturais e força de trabalho a baixo preço? Ou aceitam de tudo?

O probleminha pode ficar mais evidente se percebermos que a esticada da corda até uma tensão muito grande pode desacreditar os meios de pagamento. Caso aconteça isso, outro problema tende a surgir: as coisas reais – até mesmo petróleo – podem ficar difíceis de se trocarem. Aí, voltamos a problemas que inquietavam gentes como Colbert, ou seja, voltamos a pensar em ouro, em frações dele monetizadas…

Obama não resistirá.

A questão dos limites do endividamento público norte-americano são muito reveladoras do nível de avidez da banca. Que os limites devem ser aumentados, é algo quase evidente e simples. A dívida norte-americana é imensa, em termos absolutos, mas não é tão significativa em termos relativos. Há estados que devem muitíssimo mais, como proporção de seus PIBs.

Ninguém minimamente razoável acreditou algum dia que as promessas de pagamento são pagáveis, caso exigidas. Elas são garantidas por inércia e urânio. Dívidas assim não são para serem pagas, o que é óbvio quando lembramos que o devedor imprime a moeda em que as restantes dívidas são denominadas.

Assim, o estado norte-americano tem a enorme vantagem da moeda, embora seja aprisionado pelos credores, que escolhem quanto emprestam e a quê preço. A dívida pública é um programa de transferência de rendas da população para meia dúzia de credores, bancos e outros estados.

Se os republicanos levarem a chantagem ao limite e não recuarem e se Obama, por seu lado, também não recuar, o mundo será outro, depois do calote oficial do que sempre se soube impagável. Seria a quebradeira generalizada, o que me parece uma oportunidade histórica rara.

A questão gira em torno da divisão da conta. Obama quer tributar mais os mais ricos, que há muito não pagam impostos nos EUA. Os republicanos aceitam trocar a aprovação do limite de endividamento pela extinção da pouca assistência social que ainda há no país. Não aceitam qualquer aumento de tributação nas camadas elevadas.

Eles podem levar o mundo à queda financeira – e ao imenso tumulto inicial que haveria – por insistirem na consagração da imunidade tributária absoluta dos muito ricos que, diga-se, já são quase imunes.

Claro que Obama irá recuar, porque não é imbecil e sabe que o destino de quem não recua frente aos interesse dos oito, dez ou vinte é saber finalmente a resposta à questão atormentadora da humanidade: há sobrevida? E claro que vastas massas cada vez mais pobres de norte-americanos pagarão a conta da sucumbência ampla, geral e irrestrita aos interesses financeiros.

O que ainda me chama bastante atenção no caso norte-americano, principalmente pelas imensas proporções que as coisas têm por lá, é a incapacidade de reação popular. Sim, na Europa impõem-se medidas similares, ou seja, em função exclusiva dos interesses de quatro ou cinco banqueiros, mas os pagadores ainda conseguem perceber que estão sendo obrigados a baixarem as calças.

Nos EUA, o nível de envolvimento político e de detenção de informações – além da capacidade de associa-las e dissocia-las – é muito baixo. O fulano reduzido à miséria, que morrerá sem tratamento porque não o pode pagar, ainda fará esforços para julgar-se culpado por tudo, ele, que foi um perdedor, um vagabundo naquele sistema maravilhosamente bem-disposto, que premia os fortes e capazes.

Ele nunca perceberá que não há fortes e capazes, senão os que surfam a inércia da onda social da acumulação. Que isso tudo era discurso viável quando as migalhas abundavam. E ele ficou refém inescapável dessa prisão discursiva e vai, ou penalizar-se, ou tornar-se um vândalo afogado em bourbon ordinário do Tennessee.

Quando essa bomba explodir, não sei se ainda haverá alguém mais razoável, entre os que decidem mesmo, o inner circle, que perceba a única solução, terrível mas a única: algum fascismo. Sim, porque é a forma de controle que a direita tem para massas muito empobrecidas, ignorantes e dispersas. Se não for um fascismo, será a fragmentação.

Precisamos de uma imensa falência.

Precisamos de uma imensa falência mundial, de hordas de novos pobres, com fome. De banqueiros escondidos atrás de muros de dez metros, guardados por soldados.

Precisamos deixar de meias medidas e de idéias imbecis como essas de acalmar mercados. Deixar a crença na possibilidade de eternamente remendar a merda e deixa-la sempre a mesma merda.

Deixar de acreditar na possibilidade de fazer esse sistema ser razoavelzinho, com uma e outra esmolinha e as bestas dos políticos falando ao vento o que seus patrões banqueiros mandaram-nos falarem.

Precisamos de uma catarse, de afundar até o fim do poço, até perder-se qualquer traço de cordialidade, até matar para comer. Até deixar de acreditar em acordos, em coisas razoáveis.

Era bom que o congresso norte-americano fosse até ao final na sua chantagenzinha estúpida e não aprovasse o aumento do endividamento deles. Ou seja, que provocasse a quebra imediata, que se espalharia por todo o mundo, acabaria com referências, medidas de valor, com tudo.

Seria o rompimento de um abscesso, a jorrar pus e aliviar a infecção…

The american dream, de Ted Lumpkin e Harold Uhl.

Fantástico! É precisamente esse o mecanismo que pôs não só os norte-americanos de joelhos, mas boa parte do mundo. Não é o Estado norte-americano quem imprime dólares; não é o Estado norte-americano quem empresta esses dólares ao governo e aos demais tomadores.

É um sistema privado, o FED, que tem o Estado, o povo, os bancos menores, a indústria, como seus reféns.

Eles financiaram todas as guerras, quebraram os aparentes vencedores e compraram-nos baratos.

Eles pouco importam-se que o governo mantenha uma aparência de governo, que aparentemente faça leis. Eles são credores do governo…

Há meses, falei aqui um pouco sobre Kennedy e mencionei o ato executivo 11110. Pouco se fala desse ato executivo, que permitia ao Estado norte-americano emitir dinheiro. Isso acabaria o sistema. Kennedy morreu seis meses depois da assinatura. Jonhson revogou-o e o jogo voltou ao seu rumo. Nixon acabou o ouro, e o jogo subiu de patamar.

A única coisa plausível, seja para daqui a dez, vinte ou trinta anos – sabe-se lá precisamente quantos – é a destruição total.

Abram-se faculdades de medicina em cada esquina!

Pode ser bom escrever com raiva, desde que se saiba bem estar possuído por tal inclinação. Saber-se disso já é deixar a raiva escoar. E, escrever nesse momento mantém a incisividade que o passar do tempo pode retirar.

A escassez de médicos e outros profissionais do tratamento de saúde cobra um preço enorme da sociedade. E gera boas remunerações para os que aí estão, mas não é disso que se trata, não se trata de ganharem bem ou mal, que entrar nessa discussão é cair voluntariamente em armadilha.

O problema é do outro lado, ou seja, do lado dos destinatário dos serviços. Esses pagam – ou o governo paga por eles, embora haja médicos que recebam dos dois – e recebem um serviço ruim! Recebem um serviço pouco, qualitativa e quantitativamente e demorado e arrogante e que se supõe impossível de ser de outra forma.

Abram-se faculdades de medicina em cada esquina, pois. Aumente-se o número de médicos, para que o serviço melhore, ao menos quantitativamente e que tenha reduzido seu componente de arrogância, derivado direto da escassez.

O argumento elitista e sofístico contra essa ampliação gira em torno a qualidade ou, melhor dizendo, a uma possível queda da qualidade dos profissionais. Esse argumento é, ele próprio, imensamente arrogante, pois baseia-se na suposição de que a qualidade de todos os profissionais é grande.

O que é grande, na medicina brasileira, são os investimentos materiais, em equipamentos, em clínicas com assinatura de arquitetos que se poderiam chamar decoradores do mau-gôsto dominante de cada ciclo de dez anos. Ontem, mais doirados, hoje mais painéis escuros, amanhã qualquer bobagem visual que a moda dite.

Só piora o que é bom, deve-se ter isso em mente, bem fixadinho, para evitar os raciocínios de inverdades óbvias. E a saúde, serviço público ou privado de resolução e criação de estados mórbidos não vai bem, neste país. É difícil fazê-la pior do que está.

Os grandes médicos são poucos, como em qualquer outra profissão. E isso faz sentido, porque os grandes problemas clínicos também são poucos. E os grandes médicos são precisamente aqueles que não se ocupam de fazer o discurso contra o aumento do número de cursos e de profissionais, porque sabem que isso é uma questão estatística.

A enorme maioria dos problemas é trivial, algo que um profissional que saiba ler e escrever e tenha boa-fé resolve. O grande problema, enfim, é de disponibilidade e de não se entregar à estupidez absoluta. Havendo uma e não havendo a outra, estará tudo bem.

Mas, os preocupados com a manutenção da reserva de mercado discursarão bravamente, eles mesmos que não fazem mais que atender em escala industrial, utilizando 10% de alguma ciência médica que tenham decorado na faculdade e tenham-se apressado em esquecer, ao depois de receber a carteira do CRM. É natural, quem faz reclama de quem fará o mesmo.

Mas, o triunfo do discurso pela qualidade – pelos que não trabalham com ela – implica na manutenção das esperas de três ou quatro horas por alguma bobagem, implica nas mortes de pobres em hospitais públicos, implica nas cobranças duplicadas ao governo e aos pacientes.

A questão é saber-se se o país, um conjunto discretamente maior que o número dos médicos, quer isso.

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