A editora Alfaguara publicou novamente algumas obras do maior poeta brasileiro, João Cabral de Melo Neto, em edições preciosas. Reuniram em três volumes, chamados pelos nomes dos grandes poemas Morte e vida severina, O cão sem plumas e A educação pela pedra, grande parte da poesia cabralina.
Os volumes têm biografia, cronologia, bibliografia do autor, índice de títulos e um pequeno prefácio a respeito do autor e da obra. Queria compra-los para oferecê-los a um amigo, apreciador de boas letras portuguesas, que suponho gostará destes versos quase perfeitos.
Acontece que não há livrarias nesta urbe de quatrocentas mil pessoas, duas universidades públicas e três particulares! Há delas, claro, pequenas e bastante específicas, com livros jurídicos, livros religiosos, livros sobre informática. Não há, sem mais, a livraria como a entende o apreciador de literatura, aquela a que se vai quase por mania, para ver, pegar os livros, sentar, ler um e outro pedaço, tomar um café.
Pode-se comprar livros por meio da internet, o que é bastante prático se o sujeito sabe precisamente o que deseja e dispõe-se a esperar uns dias para ter o volume em mãos. Tenho comprado muitos livros assim, usados, em um ótimo sítio de internet, a estante virtual. É até melhor que alguma livraria se se deseja algo mais raro e fora de catálogo das grandes editoras.
Pois bem, o fato é que nos deslocamos 130 Km, até João Pessoa, para ir a uma livraria e comprar os tais livros de João Cabral de Melo. E não foi para ir a uma esplêndida livraria, mas a uma dessas de centro comercial, que vendem livros, revistas, jornais, discos, filmes, petrechos de informática, máquinas de fotografar. Coisas como as Fnac ou Livraria Cultura.
Essas lojas são muito mais que livrarias e seu sucesso está precisamente nisso. São locais de convivência e de deixar passar o tempo. Não têm mesmo grandes acervos de coisas boas, porque quase tudo gira em torno a manuais de como ficar-se rico ou em paz consigo próprio. Todavia, são livrarias! São amplas, vendem de quase tudo, têm onde sentar-se, comer alguma coisa, tomar um café, uma água.
Não há uma loja dessas em Campina Grande! Arrisco-me a parecer atrevido em suposições de comércio e econômia, mas acho que estão perdendo um bom negócio. Uma livraria assim não dará prejuízos porque ela não vive propriamente de leitores ou amantes de livros, ela vive de quem precisa de um espaço de lazer e convivência, com o pretexto dos livros, que é uma desculpa aparentemente sofisticada para o frequentador.
Além de atender ao sujeito que a frequenta porque acha bonita a aparência intelectualizada, ela presta um grande serviço ao que visa aos livros mesmos. Ou seja, finda por ser boa para todos. Ninguém vai imaginar que uma Fnac retira a maior parcela de seus lucros dos bibliófilos. Ela vende computadores, jogos, bilhetes para espetáculos, comida, aparelhos de GPS, quase tudo enfim, e continua a vender livros.
Esses estabelecimentos tornam-se pontos de convergência de interesses diversificados e por isso mesmo são lucrativos. Não sou ingênuo a ponto de lastimar a inexistência de uma livraria de verdade, mas lamento profundamente que não haja nem das de mentira e creio que alguém está perdendo dinheiro nisso.
Andrei. Em Recife as livrarias estão fechando aos montes. Algumas explicações podem ser tentadas: os supermencados hoje vendem material de papelaria o que já é uma baixa. As listas de livros escolares hoje são despachadas via internet, sem aquela pesquisa no comércio do meu tempo de garoto. se antigamente nosso povo não era tão chegado ao hábito da leitura, aquela parcela que ainda lia hoje cede em parte aos apelos da internet. E ao velho hábito de ir numa livraria, tomar um café e folhear um livro… estão preferindo beber, cair e levantar… Uma pena.
É verdade, Julinho, as livrarias propriamente ditas vão fechando.
Por isso, nem é a ausência delas que me desanima, embora tenha nostalgias.
Estou resignado ao modelo Fnac e Livraria Cultura e sinceramente acho desproporcional que não exista uma dessas em Campina Grande.
Esse tipo de empreendimento seduz bastante, desde o sujeito que está atrás de livros, até quem quer apenas um passeio ou quer fazer gênero.
Existe livraria em campina grande… é a livraria culturapb. é bem tradicional (por isso acredito que voce nao seja de campina grande)…
Curioso. A livraria Cultura fechou as portas há mais de ano. Realmente, não sou de Campina Grande, mas o que tem isso?
Olá Andrei, estou retomando esse comentário em 2014 para o conhecimento de quem vir a visitar este tópico futuramente, e saber que Campina está quase na mesma situação que você descreveu em 2010.
Na verdade essa CulturaPB a qual Maria se refere é uma livraria tradicional da cidade, não pertence à franquia nacional Livraria Cultura. Entretanto ela se enquadra no que você aponta no texto de “literatura específica”, no caso a jurídica. O espaço conta com sala de leitura, e com acervo também diversificado, o que fere o Campinense são os preços, alguns com o dobro do preço de livros comprado na internet e com frete. Uma pena.
A novidade é que a franquia Nobel está abrindo as portas em breve na cidade, será num casarão histórico da Rua Irineu. Outro ponto positivo é que quatro Shoppings estão para ser construídos em Campina, dois deles para atender a um público grande, e dois deles pra público específicos, os dois maiores e um dos menores estão em construção, um outro ainda está em fase de estudo, embora sua construção seja inevitável. A novidade é que os dois shoppings para público específico serão destinados à Cultura, com Teatro, cinemas e Livrarias, um deles inclusive é bem próximo da UFCG e UEPB, e o outro será acoplado ao complexo da FACISA, então podemos esperar por ótimas novidades para esses dois estabelecimentos e claro, com uma ótima Livraria, ousaria em apostar numa Saraiva ou no retorno da Cultura.
OS outros dois grandes Shoppings em construção ainda não anunciaram qual livraria terá em sua instalações, mas no programa deles tem esse estabelecimento em pauta, falta saber qual será a rede.
Lembro também que no atual shopping em atividade o Partage (antigo Boulevard) já está aberto um quiosque da Nobel destinado à Literatura Infantil.
Lembrando que isso são apenas propostas, não se sabe ao certo quantas livrarias de fato sairão do papel nem quais conseguirão sobreviver, o que nos resta é torcer para que o melhor sempre aconteça
Pois é, são auspiciosas as notícias quanto à Nobel e às livrarias que possivelmente haverá nos novos centros comerciais, se estes realmente se tornarem realidade.
É muito difícil uma livraria manter-se, notadamente se for apenas livraria, ou seja, se não tiver um café e não vender de tudo, em ambiente considerado bacana e moderno.
Paradoxalmente, Campina, que tem uma universidade federal, uma estadual e várias faculdades privadas não é, hoje, embora já tenha sido, um pólo cultural. Hoje, a figura dominante é aquela do alto médio classista que cultiva as aparências. Esse público só permite livrarias se elas forem mais espaços de convívio e cafés com ares charmosos e modernosos.