Meus caros Alcino Miguel e Daniel Maia fizeram comentários à postagem precedente, que merecem tornar-se eles próprios em postagem. A compreensão do que é e que papel desempenha uma camada média social tecnocrática – que compreende a burocracia pública, como subconjunto – ensejou a conversa. Sim, conversa em nível de proposições que me faz ter saudades dos interlocutores em questão. Precisos, conhecedores de história, sem receios de pensarem.
Daniel Maia:
É interessante notar o surgimento desta tecnocracia no ocidente a partir das necessidades da burguesia alemã. Agora, mais curioso ainda é perceber que aquela é, senão, apenas uma variante da classe dos ditos servidores públicos que, desde que existe Estado, representam uma sombra do próprio poder, sob qualquer forma que ele seja exercido. Sabe-se que a “tecnocracia” ainda é hoje um dos forte pilares de organização política e social dos países que pretenderam adotar o socialismo. E há ainda um sem número de histórias desses funcionários na China dinástica, na Pérsia, no império Inca, e na Roma de qualquer época, que chegavam a ser mais importantes que o próprio soberano. Parece-me que, quer estejamos nos referindo aos complicados mecanismos de produção que inventamos nos dois últimos séculos, quer nos reportemos aos escribas dos tempos mais antigos, estamos tratando da mesmíssima coisa, apenas com roupagem diversa. Só o anarquismo ou comunismo verdadeiro prescindiriam deles.
Alcino Miguel:
Caro Andrei,
Daniel Maia,
Julgo importante distinguir uma confusão gerada com o epítetismo “burguesia tecnocrata”.
Na verdade, este grupo, como fala Andrei, formado por uma grande massa média, não é propriamente burguês, mas, meramente seu herdeiro; fiduciário dos ideais que a burguesia brandiu com as revoluções liberais.
A burguesia conquistou o seu lugar na história destronando os aristocratas; lutou, empreendeu e conservou.
A burguesia é ciosa do seu mister, do seu lucro e da sua poupança. O seu capitalismo necessitou de liberdade e segurança para se movimentar porque disso depende o seu modo de vida!
Esta classe não é empreendedora é servente, não procura o lucro apenas a utilidade/proveito imediato, não poupa apenas consome!
Não é burguesa, está abaixo desta servindo-a!
É tecnocrata na atitude, na mentalidade! A função sempre se manifesta no índividuo é certo, a tecnocracia está ao serviço das sociedades, correctíssimo Daniel.
Porém, o poder é o lugar da evasão, do arbítrio. O dramático do regime democrático é está enfermo da atitude desta grande massa! Mas!, há quem ainda exerça o poder e estes colocam-se discretamente mesmo ali ao lado do poder democrático.
Um abraço.
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