Presidentes Lula e Ahmadinejad
O Brasil, o Irã e a Turquia chegaram a um acordo por meio do qual os persas enviarão à Turquia 1.200 kg de urânio pouco enriquecido, em troca de matérial físsil mais enriquecido a ser utilizado em reator destinado a pesquisas médicas. O acordo está conforme ao que propunha a ONU, para solucionar o impasse sobre as pesquisas nucleares iranianas.
Nada obstante, muitos destilam suas decepções e fazem comentários céticos sobre o êxito, como a Senhora Rodham Clinton. É compreensível, pois o acordo deixa claro que se as negociações anteriores tivessem sido conduzidas com reais propósitos conciliatórios teriam chegado também a bom termo. Não faltaram aos norte-americanos e à ONU esforços, faltou boa-fé.
O acordo retira aos EUA o pretexto que invocariam na ocasião em que o Estado de Israel desferisse mais uma de suas ações agressivas contra seus vizinhos. Diriam, certamente, que Israel praticara mais uma de suas investidas bélicas desproporcionais, matando muita gente que nem se dá ao trabalho de pensar nessa maravilha teocrática com vistas para o mediterrâneo, porque afinal o Irã havia sido irresponsável com seu programa nuclear.
Essa desculpa, ao menos por enquanto, não servirá. Claro que encontrarão outra, mais adiante, e encherão a paciência de quantos ainda pensam por si, no mundo, a dizer que seus interesses bélicos imediatos confundem-se com problemas globais.
Alguém poderia sugerir a Israel que – em memória do grande pacifista Josué – abrisse a inspeções o complexo de Dimona.
Realmente, esta vitória da diplomacia brasileira me surpreendeu. Finalmente tivemos uma grande vitória diplomática (a meu ver, erramos muito nos últimos anos).
Agora sobre a frase final do título do post, peço que verifique os portais na internet, pois a notícia está estampada em boa parte deles. Chequei Veja.com, Yahoo.com, Folha de São Paulo e o G1 (neste a notícia estampada na página é a de maior destaque).
Emanuel,
Deram a notícia como se fosse alguma bobagem, em textos carregados de ceticismo e alguns de pretensa ironia.
O maior jornal do Brasil, O Estado de São Paulo, estampa, nesse momento: Irã vai continuar a enriquecer urânio mesmo com acordo.
Fica clara a vontade de minimizar a coisa.
Realmente, o teor das reportagens tenta minimizar as coisas… Mas será que nós não estamos tentando maximizá-las irrealmente? Não sei e não quero saber. Não sei porque não li o teor do acordo; não quero saber porque, sinceramente, não consigo ser imparcial em relação a um país (o Irã) onde provavelmente um blog como este nunca existiria e eu já teria sido morto duas vezes pelo Estado – se fosse possível – por motivos religiosos e de sexualidade…
Emanuel,
Talvez a coisa toda dependa da informação e das ênfases.
Muitas das liberdades civis apregoadas pelo mundo europeu e norte-americano não existem mais.
Lembremos, por exemplo, que o estado norte-americano do Novo México (não tenho bem certeza se foi esse ou outro), aprovou uma lei de imigração que é a legalização da discriminação em função da nacionalidade.
Vários estados europeus discriminam em função da religião, mais e menos abertamente, conforme o caso.
Nos EUA o recrudescimento da discriminação em função das opções sexuais é evidente. Coisa aparentada com o fanatismo neo-pentecostal que viceja por lá.
Então, acho que a informação chega muito filtrada por aqui e que muitos paladinos das liberdades não têm reais condições de acusar os outros países.
Com certeza. Você está certíssimo. Num dos livros de Richard Dawkins que li recentemente, ele fala das inúmeras ameaças que recebeu (e deve ainda receber) de “cristãos” que vão de ameaças com o “fogo eterno” a ameaças mais reais como ameaça de morte. E, salvo engano, são majoritariamente vindas de cidadãos dos EUA. Ele chega a citar trechos de algumas cartas e eu fico imaginando como alguém se considera cristão e ao mesmo tempo faz este tipo de ameaças…
Realmente, os filtros são numerosos e invisíveis para o brasileiro-médio, que não tem tempo e/ou disposição para tentar percebê-los…