É ótimo que se discuta a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Raramente pode-se discutir qualquer coisa e geralmente a discussão é obstada precisamente pelos que clamam por democratização dela.
É ruim que a contrariedade a Belo Monte tenha como ponta-de-lança tolices como o vídeo que atores de novelas da Globo fizeram. De tão vulgar, deixa claro como tratam vulgarmente qualquer assunto e qualquer público. É coisa de vender lavadora de roupas.
Nisso, há o de sempre: interesse e boa vontade. A última lamenta os impactos que uma obra tem. A primeira é questão de domínio, pura e simplesmente, e leva muita gente atrás. A pergunta é: a quem interessa.
Se nós queimássemos carvão e óleo, como a China, o Japão e os EUA, e quiséssemos queimar mais, eles patrocinariam a contrariedade ao aumento da fogueira e a manteriam acesa lá nos países deles.
Se nós quisermos dividir átomos de metais muito pesados, eles serão contra, porque é arriscado, principalmente de engendrar a bomba que devíamos ter feito há muito.
Se nós partirmos a sério para algumas fontes renováveis – eólica e solar, por exemplo – eles serão contra, também. E terão argumentos, como há contra tudo. Dirão que ocupam vastos espaços, que podem ser utilizados para produzir alimentos…
Afinal, para gerar o que Belo Monte gerará, uma fazenda eólica teria que ter quantas vezes a área do lago no Xingú?
Andrei,
A ponta-de-lança desse debate não o videozinho tolo dos tolos atores da Globo. Não quero dizer que a boa vontade dos globais é sincera, pois não acredito que seja (e aí, haja Chomsky pra explicar a coisa da comercialização do consenso).
Mas essa luta é antiga. Tem pelo menos 3 décadas.
E como fica a luta do povo do cacique Megaron – este que foi sumariamente demitido da Funai sem qualquer justificativa, e sem ao menos um aviso prévio?
Creio que debater BM a partir do vídeo dos globais não é um caminho muito promissor.
André,
Acho que não deveria ser, mas o tal vídeo dos globais tornou-se a ponta-de-lança contra Belo Monte e surtiu dois efeitos. No sentido de angariar opiniões contra a usina, penso que foi positivo.
Para quem quer discutir a coisa a sério, foi meio ridículo, o que é ruim, como disse no texto.
Tenho para mim que podíamos pensar o seguinte: podemos abrir mão de 4.500 MW médios anuais ou gera-los de outra forma, logo, sem que o crescimento estanque? Caso positivo, como? A que preço?
Caso positivo, quantas seriam as populações deslocadas? Não seria mais gente?
Eu acho que Belo Monte é o catalisador da preguiça brasileira em buscar soluções mais difíceis, porém menos danosas.
Todo nosso crescimento tem se dado sob a égide da preguiça e do comodismo (evidentemente, com fins eleitoreiros óbvios). E quase ninguém está preocupado se desperdiçamos quase 50% (nem sei exatamente quanto, mas é um número assustador) do que produzimos de energia.
Mas tem sido assim na área educacional, agrária, cultural, política, energética, et cetera.
Desse jeito vamos longe!
Do ponto de vista físico, energia nuclear sempre vai ser a melhor opção, só não sei dizer se é mais barata a curto prazo. E se passam por cima da vontade dos que vão contra as hidrelétricas ou contra qualquer outra coisa, pelo menos que passassem por cima fazendo a coisa mais esperta.
Andrei,
Parece que a União já demonstrou que o lago de Belo Monte não irá prejudicar, sob qualquer aspecto, as populações indígenas eventualmente interessadas na paralisação do projeto.
Segundo: tecnicamente, sabe-se que o tamanho do lago da usina, comparando-o com aquilo que se tem em território nacional, é ridículo frente aos benefícios que serão gerados. Ora, e impacto por impacto, não há como ser humano sem ser impactante!
Terceiro: é indiscutível que precisamos de mais energia. E o argumento segundo o qual poderíamos economizar daqui e dacolá, sermos mais eficientes, desperdiçarmos menos etc etc, não traz nada de novo e, acima de tudo, não significa solução alguma. Afinal, mesmo que nosso sistema de distribuição fosse perfeito, as contas bem simples demonstram que o ritmo de crescimento desejado para o Brasil supera, em MW, aquilo que hoje se produz, incluindo-se nas contas o consumo industrial e o consumo da nova e ávida classe média brasileira.
Quarto: certa vez te falei de um livro, guia politicamente incorreto sobre aquecimento global. O autor traz vários dados interessantes sobre o “modus operandi” dos ecochatos e seu autoritarismo. Na verdade, se suas idéias fossem efetivamente praticadas, o ser humano haveria de ser extinto da face da Terra. Suas idéias, aquelas que circulam neste fóruns internacionais, de tão repetidas, acabam se tornando “verdade” (aquecimento global, falta de terras para alimenta a população mundial etc etc). Você acabou de testemunhar isso com o vídeo feito com participação de atores da Globo.
A roupagem científica de suas teses é uma farsa e não tem qualquer respaldo experimental. Pra você ter uma idéia, os mesmos argumentos eram utilizados na década de 70, quando houve um relativo esfriamento da temperatura mundial. Mais uma vez, a culpa era do homem, da emissão de gases de efeito estufa etc etc. Agora, quando se tem, em tese, um aumento das temperaturas, os argumentos são os mesmos.
E, pior: se os militantes de esquerda, que hoje se vestem de verde, pensam que lutam contra o “sistema”, podem-se considerar enganados. Está muito claro que, no meio do tiroteio, o dinheiro brota daquelas mesmas fontes acima da linha do Equador, de fundações e de mega-corporações em nada associadas aos antigos ideais tradicionais de esquerda e do movimento ecologista da década de 60. Que tal perguntar a Al Gore se ela gostaria de ter usina eólica na frente de sua mansão, em um belo trecho da costa americana? Na verdade, isto tudo representa a luta pelo domínio da produção de energia. E quem domina a energia domina o modo de vida que hoje conhecemos.
Claro, sempre haverá os “idiotas úteis”, no dizer dos soviéticos, para levar adiante as idéias plantadas e repetidas à exaustão.
Belo Monte é um bom projeto de usina hidroelétrica sem gerar grande impacto ambiental. É só ver no Google Earth o que a usina vai inundar e concluir que o motivo do estardalhaço contra o projeto é outro.
Com Belo Monte poderão ser instaladas fábricas de processamento de alumínio e de ferro bem proximas das minas e isso deixará o Brasil um produtor mais sério de aço e alumínio, e não somente um exportador de minerio.
A interligação elétrica com uma usina de porte grande no local de Belo Monte também assegurará uma maior confiança contra apagões de âmbito nacional.
Esses contestadores alienígenas de plantão criticaram também o projeto de Three Gorges na China, mas os chineses contrataram empresas americanas e européias para a construção da mega usina hidroelétrica e o negócio forçou os ecoxiitas a engolirem o sapo (a China tem bombas, foguetes, mercado, muito dinheiro em moeda forte em caixa e outros meios de persuadir aos americanos de juízo a ficarem quietos).
Há também uma briga “velada” entre as construtoras, os fabricantes de equipamentos eletromecânicos e as empresas de consultoria para pegar os serviços, e é comum, até entre empresas consorciadas, uma puxar o tapete da outra como está acontecendo em outros projetos de hidroelétricas menores e com muito maior impacto ambiental, já licenciadas por IBAMA, ANA e ANEEL e a serem construídas no Brasil. Com energia elétrica abundante no baixo Xingu o surto de desenvolvimento industrial e agrícola na região vai ser alto.
Em 1950, se não estou muito errado, o futurólogo americano Herman Khan (desculpem se estou escrevendo o nome do “divinador” errado”) disse que a usina hidroeletrica de Paulo Afonso I , com 180 MW instalados, abasteceria o Nordeste até o ano 2000. Perto do ano 2000 a CHESF já tinha cerca de 10 mil MW instalados e hoje o Nordeste é suportado por energia extra do Sudeste e do Norte.
Um documento anualmente publicado pelos estados e pela união é o “Balanço Energético”. Nele pode-se ver a relação entre consumo de energia e PIB, conhecida como “intensidade elétrica do PIB. Esse valor é pouco variável e mostra que o crescimento do PIB do Brasil está amarrado pela falta de crescimento da oferta de energia elétrica.
Dá para desconfiar de que os USA e a Europa Ocidental andam lendo muito bem os balanços energéticos brasileiros para nos manter a reboque deles.
Bom comentário Daniel Maia.
A propósito, você já esteve dentro de uma grande fazenda eólica? Dentro de pouco tempo você começa e se inquietar com o “vum, vum, vum” das pás das hélices passando em frente à torre e dando uma chicotada na estrutura e provocando uma onda de som chatissima.
Se colocarem um bom pasto verde embaixo do aerogerador vacas vão pastar um pouco contrariadas, mas duvido muito que favelados se instalem por lá voluntariamente.
Outro bom problema a se considerar é a intermitencia e imprevisibilidade da geração eólica. Quando há vento e boa potencia gerada alguma usina termica ou hidraulica deve reduzir ou parar a sua geração para que a energia eólica possa ser absorvida pela rede. Isso acontece nos reservatorios das usinas hidroeletricas, acumulando-se água, e nas termicas deixando que queimar combustível.
Quando se tem um sistema de usinas hidroeletricas em cascata, uma soltando água para a seguinte poder gerar, se voce reduz a geração em uma pode ter que jogar água fora pelo vertedor para atender á usina de baixo, uma operação que se chama de “mágica besta”.
Daniel, meu caro, posso transformar teu comentário em postagem?
Sidarta,
É muito interessante o que apontaste. Há inúmeros projetos aprovados, muitos deles mais impactantes que Belo Monte, em termos ambientais e sócio-culturais, e de potencial bem menor.
E não se fala deles com a mesma ênfase, ou mesmo nada se fala. Quer dizer, o problema não é propriamente o impacto, para a repercussão mediática.
Isolando-se uma variável, tem-se que o problema é do tamanho do potencial.
Isso, para ser repetitivo, é o que me chama atenção. O impacto é relativamente pequeno – claro que pequeno não significa inexistente – mas a insistência é enorme.
Essa desproporção aponta exatamente para as vantagens como o ponto central a despertar uma campanha tão tenaz e, em muito, patrocinada externamente.
PODE, HEHEHEHE
Prezados Andrei e Daniel,
Mesmo tendo levado umas carreiras da polícia no início dos tempos da ditadura militar na escola de engenharia, devo confessar que, às vezes, e somente às vezes, tenho saudades de Geisel, que construiu Itaipu afogando as cataratas no rio Paraná, destruindo a alfândega do lado argentino quando encheram Itaipu descarregando de uma vez os reservatorios brasileiros no rio Iguaçu e provocando um bom problema para os argentinos, que tinham além disso que retardar o horário de ponta das suas usinas no rio Paraná (Corpus e outra) porque a água que Itaipu descarregava na hora da ponta do sistema elétrico brasileiro chegava às usinas na Argentina algumas horas depois e tumultuava pesado o despacho de geração daquelas usinas. Ainda hoje é assim e Geisel teve que aceitar baixar a cota de Itaipu para não ir à guerra com os argentinos, reduzindo a diferença entre vazão de ponta e vazão fora de ponta.
Trabalhei recentemente nos estudos hidraulicos de uma ponte em uma BR que cruza o Xingu 2km a montante da restituição de Belo Monte, já no fim da Volta Grande do Xingu, e tive que estudar o projeto e como a usina deve operar. É uma usina a fio d’água e não tem lago para armazenar nada. Esperava que tivesse um laguinho com algum impacto ambiental e que pudesse me ajudar a baixar o nivel de altura da ponte. Frustrado, constatei que Belo Monte é um bom projeto e que, comparado a outros existentes e a muitos outros em licenciamento, é muito “inocente” em termos de impactos. A vazão media mensal do Xingu varia por lá de 800 a 11000m³/s, podendo gerar, a grosso modo, de 1000 a 12000 MW sem inundar nada. Todo o parque energético da CHESF tem hoje cerca de 10000 MW instalados em várias usinas. Vai-se jogar esse potencial fora porque os ambientalistas estão cobrando “um pedágio” alto demais e se utilizando da imprensa para manipular a opinião pública e forçar o governo a pagar mais?
Ouvi dizer que em Pelotas, no Rio Grande do Sul, quando o prefeito mandou colocar na rua uma placa com os dizeres “Passagem para Pederastas” e foram questioná-lo dizendo que o certo era “Pedestres”, ele respondeu: “por conta de uma meia duzia de três ou quatro insatisfeitos não vou contrariar a maioria”.
Que se construa Belo Monte mesmo que uma meia dúzia de tres ou quatro tenha sido contrariada nos seus interesses ou no tamnho das suas benesses… mas não estou querendo dizer aqui que alguem está sendo chamado por mim de “viado” nessa questão.
Grande abraço. Sidarta