Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Autor: Olivia Gomes (Page 3 of 3)

Sugestão de leitura. Do amor e outros demônios. García Marquez.

Texto de Olívia Gomes.

Neste carnaval dei-me de presente a leitura de um bom livro. Li Do amor e outros demônios do colombiano Gabriel García Marquez. O livro é de 1994, mas a estória o autor retirou-a de um episódio acontecido em 1949, em Cartagena das Índias.

O fato é que o autor, quando do exercício da função de jornalista, e em busca de uma notícia, foi acompanhar o desenterrar dos corpos das criptas do antigo convento de Santa Clara.

Eis que no terceiro nicho do altar-mor, ao lado do evangelho, estava a notícia: “a lápide saltou em pedaços ao primeiro golpe da picareta, e uma cabeleira viva, cor de cobre intensa, se espalhou por fora da cripta”, estava preso a um crânio de menina e media 22 metros e 11 centrímetros. Na lápide estava escrito o nome dela, Sierva María de Todos los Angeles.

Então, o autor lembrou-se de ouvir, quando menino, sua avó lhe contar a estória de uma marquesinha de 12 anos cuja cabeleira se arrastava como um véu de noiva, que morreu de raiva contraída pela mordida de um cachorro e que era venerada no Caribe por seus milagres. Eis que surgiu a notícia de García Marquez, na época, e o fantástico livro cuja leitura venho sugerir.

Pois bem, o contexto é a Colômbia e a estória é a de Sierva María, filha de Bernarda Cabrera e de um nobre crioulo, o marquês de Casalduero. A mão odiou a menina desde que ela nasceu, e o pai era dotado de tamanha apatia que o levava a não perceber a existência dela, de modo que a menina foi criada pela negra Dominga de Adviento, no pátio dos escravos.

Dominga fez a promessa de somente cortar os cabelos da criança quando ela se casasse em troca dela sobreviver ao cordão umbilical enrolado em seu pescoço que a acompanhava quando de seu nascimento.

As negras cuidavam de Sierva María e de seus cada vez mais longos cabelos. Até que um dia a menina foi mordida foi um cão raivoso, quando passeava em uma feira acompanhada de uma escrava.

Dom Ygnácio de Alfaro y Dueñas, o marquês, após um ataque da raiva e diante da possibilidade da morte da filha, procura ajuda do médico Abrenuncio de Sá Pereira Cão, um médico judeu, perseguido pelo Santo Ofício e fugido de Portugal. Este, por sua vez, ao afirmar a impossibilidade de cura da hidrofobia, sugere ao pai de Sierva María que até o fatídico dia faça-a feliz, já que “não há remédio que cure o que a felicidade não cura”.

E assim o marquês tentou fazê-lo. Trouxe a menina de volta para a vida dos brancos, sem se perguntar se isso faria feliz a menina que sempre se apresentava pelo seu nome de negra, María Mandinga. Bem o disse a professora de música contratada para lhe dar aulas: “não é que a menina seja negação para tudo, o que há é que ela não é deste mundo”.

O fantástico da estória – que levou o autor a ser sempre apontado pelo seu realismo fantástico – começa exatamente quando a menina é exposta ao mundo que não é o seu. Os ataques da raiva foram logo confundidos com uma possessão demoníaca e em virtude dos consehos do Bispo da diocese, Dom Toríbio de Cáceres y Virtudes, ela foi levada ao convento de Santa Clara, para que fossem iniciados os trabalhos do exorcismo.

No convento, como não poderia deixar de ser, os costumes africanos da menina também foram confundidos com as artimanhas do inimigo. Os colares das dividades africanas assustavam as noviças, para além dos hábitos da menina de matar carneiros, estrangulando-os e depois comer seus olhos e testículos cozinhados, e falar em iourba e congo, e em outras línguas aprendidas com os escravos.

O padre responsável pelo exorcismo, Cayetano Delaura, o bilbiotecário da diocese que acreditava ser descendente direto de Garcilaso de la Vega, finda se apaixonando por Sierva María e ela por ele. Consequentemente, o padre deixou de sê-lo e foi castigado a cuidar dos leprosos em um hospital, o que o deixou atormentado e com ares de louco. Esta também foi uma façanha do demônio que havia possuído o corpo da menina.

García Marquez demonstrou com muita sensibilidade e com uma ironia sútil o quanto a realidade pode ser fantástica. Sierva María só vivia, sendo que o fazia com outro modelo. O fantástico aqui fica por conta da vida diferente da que é comumente encontrada.

Eis que Sierva María morre de amor a espera de Cayetano que, em razão de seu castigo, não volta. Seus cabelos haviam sido cortados e raspados para o exorcismo. A noviça que a encontra sem vida vê seus cabelos crescendo rapidamente em um corpo já morto.

Por fim, não posso deixar de mencionar duas coisas: a primeira é que sempre sinto os cheiros ou sou levada aos locais descritos pelo autor em suas obras. Este é permeado de cheiro de mar e de flor de laranjeira. A segunda é um trecho que me chamou muita atenção.

O bispo da diocese em conversa com o vice-rei recém chegado: “Falou de Yucatán, onde tinham construído catedrais suntuosas para esconder as pirâmides pagãs sem perceber que os aborígenes acudiam à missa porque debaixo dos altares de prata seus santuários continuavam vivos”.

Lembrei-me dos templos destruídos, das catedrais e do convento construído em cima de uma estrutura inca, no Perú.

Música de Rodrigo Leão. Composição portuguesa.

O vídeo que segue da música A comédia de Deus é de composição do português Rodrigo leão e faz parte de seu quarto CD, chamado Cinema.
Gosto muito da música, que parece-me uma mistura de Adiós Nonino com as músicas populares francesas dos anos 30 ou 40, com aqueles acordeões característicos.

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"Da minha língua vê-se o mar". Vergílio Ferreira.

Vergílio Ferreira sobre a língua portuguesa:

“Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação.”.

Belíssimo!


E por que não escoa?

Me fiz esta pergunta ontem ao ler a capa da revista Veja, que traz a seguinte pergunta: Por que chove tanto? e ainda afirma que uma combinação de fatores naturais tem castigado o sul e o sudeste do Brasil desde o começo deste ano.

Com uma afirmação como esta, a imprensa finda por retirar a responsabilidade dos gestores públicos pelos danos causados em decorrência dos temporais. O fato é que não são as chuvas que castigam as mencionadas regiões. A falta de estrutura urbana é que faz este papel. Afinal, as águas da chuva não escoam e, consequentemente, acumulam e geram os desabamentos e os outros problemas já conhecidos.

Colocar a culpa dos alagamentos, mortes, desabamentos, e etc, em um fenômeno natural é o caminho mais patife que pode haver, além de consistir em verdadeira subestimação das inteligências alheias. Chuva não é exclusividade do verão brasileiro; é um fenômeno de ocorrência mundial, mas que não gera transtornos da ordem dos “castigos” em todos os lugares do mundo.

Lembro-me de no inverno do ano passado em Portugal. Em Braga – cidade apelidada pelos portugueses como “penico do céu” em virtude da grande quantidade de chuva no local – choveu um mês inteiro quase ininterruptamente e não me recordo de ter visto um só ponto de alagamento na cidade.

A quantidade de chuva e os problemas vividos nos últimos tempos nas regiões sul e sudeste passam por um nexo causal escondido pela imprensa: a falta de estrutura urbana e o descaso dos governos com as condições de moradia, saúde e segurança da maioria da população. É mais conveniente culpar as chuvas.

O pequeno Floriano.

Este é Floriano, o gato que Andrei encontrou em péssimo estado em um bar aqui de Campina Grande. Ele escreveu uma postagem a propósito dos maus tratos com os animais.

Pois bem, ele agora tem casa, tem nome e tem o tratamento que todo animal deveria ter. Já quase não manca mais da perna, que estava bastante dolorida e que, segundo o veterinário, provavelmente teve por causa um chute ou algo assim.

Enfim, este é o desfecho da estória cujo início foi contado por Andrei.

Floriano, que é o 4º gato da casa, é lindo e bastante simpático.

A vida imita a arte.

Hoje vi uma reportagem no Jornal da Paraíba que me chamou a atenção pelo que tinha de cômico. Ocorre que num povoado em Esperança, aqui na Paraíba, chamado “Massabiele”, com aproximadamente 800 habitantes, construíram, há muitos anos, um cemitério que acabou virando um roçado.

É que, assim como na fictícia cidade de Sucupira, da novela O Bem Amado e do famoso prefeito Odorico Paraguaçu, ninguém morreu no povoado para que o cemitério fosse inaugurado.

Achei cômico e não consegui deixar de me lembrar da estória folhetinesca da novela em que o prefeito que mandou construir o cemitério e que anseou bastante pela sua inauguração findou por inaugurá-lo.

Sugestão de filme. O amor nos tempos do cólera.

Creio que o belíssimo livro de Garcia Marquez não precise ser sugerido. Todavia, o filme, feito a partir do livro, pode e deve sê-lo.

A estória de Florentino Ariza e Fermina Daza é muito bonita e foi bem adaptada para o cinema. O contexto é Cartagena das Índias, na Colômbia,  no século XIX. O amor de Florentino por Fermina acontece em meio a um surto de cólera, por isto o título da obra. Me chamou a a atenção as atuações de Javier Bardem, protagonista, e de Fernanda Montenegro, mãe do protagonista Florentino.

Segue um trecho do filme e fica a sugestão para o fim de semana.

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A Foca, por Alceu Valença

Lembrei-me deste vídeo hoje pela manhã. A música A foca, cantada por Alceu Valença, faz parte do disco A arca de Noé, de Vinicius de Moraes. Vale a pena dar uma olhadinha.

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