http://youtu.be/p8nj_E8XHrs
Autor: Andrei Barros Correia (Page 43 of 126)
Escrevo agora somente por escrever. Bem, essa foi a fórmula comum e mais simples que achei para dizer que divago ou que tenho tais e quais saudades. Tudo misturado e bem difuso: vontade de escrever, saudades, mania de comida, memória gustativa e olfativa…
Há dois anos e tantos conhecíamos um restaurante indiano, em Braga. Levou-nos a ele o Miguel, sujeito inteligente e capaz de perceber o que poderia agradar. O restaurante tem nada demais, além de uma comida boa. O dono é uma figura curiosa, diz que é sikh, aponta como garantia de pertencimento a esse povo originário do norte da Índia um bracelete fino, prateado, que trás no punho.
Fala um português razoável, diz que acha mais fácil entender alemão, comenta as ambiguidades da língua nossa e de Camões, que tem várias palavras para a mesma coisa, reclama de vizinhos brasileiros, que são piores educados que os caboverdianos. Enfim, ele faz o papel do indiano legítimo, que é.
Esse restaurante indiano faz parte da minha memória bracarense. A comida boa, a conversa com Miguel, o café depois, depois casa, a gata amarela esperando-nos ou sabendo que chegávamos, o livro, a crônica a ser escrita, o vinho de três euros, o futebol na televisão velha que era quase preta-e-branca.
Hoje à tarde, Braga assaltou-me de surpresa, no trabalho. Ela costuma voltar-me em outras ocasiões, mas hoje foi no trabalho, à tarde, sem pedir licença, sem me dar mais que um leve desconforto de estar aqui, assaltou-me só de saudades inesperadas.
Na verdade, esse assalto não foi o que me inspirou a fazer o caril de amanhã. Já o vinha planejando, mas ele tomou sentido diverso da simples idéia de cozinhar qualquer coisa. Virou caril de saudades, o que vai me tornar mais condescendente com o resultado, provavelmente.
Não fui apresentado ao caril no tal restaurante em Braga. Já o conhecia e apreciava, por conta dos bons que faz Laura, que tem ascendência goense e sabe fazê-los muito bem feitos, um pouco suavizados no picante, para não desagradar os paladares mais sensíveis.
Pois, amanhã será caril de perna de porco e peito de galinha. Eles já estão em sumo de uma laranja – invenção que não sei se resultará bem – um pouco de sal e gengibre. Amanhã saberei…
O homem propôs que pensa, logo existe. A proposição inspira genialidade – e não é mesmo alguma tolice – mas deve-se vê-la ao contrário, ou em suas outras formas possíveis. Ela implica não apenas um só sujeito cognoscente, mas apenas o sujeito cognoscente. Ela é uma ontologia sem objeto.
Assim, só o sujeito existe, o que torna o problema da existência um não-problema. Essa maravilhosa ontologia racional é a negação pura e simples do ser, portanto, uma vez que confunde pensar – sem dizer o que seria – com ser. Desta forma, o objeto, que é o objeto a que se reporta o pensar e que, por sua vez, define o ser, não existe!
Se eu existo porque penso, o que não pensa não existe e, portanto, meu pensamento, ou é sobre nada, ou é sobre mim mesmo. Como seria estranho que meu pensamento – que define meu ser – dirigisse-se a nada, tenho que admitir que só pode dirigir-se a mim mesmo. Então, sou sujeito e objeto e o resto é nada.
Todavia, se o resto é nada, porque não pensa e consequentemente não existe, meus problemas são pouquíssimos. Não preciso, em tal modelo, pensar o tempo, por exemplo, pois ele não existe, já que não pensa. Penso eu e só posso pensar sobre mim, já que todo o resto é não existência.
Isso, que vai enunciado brevemente, não é lógica, é racionalidade. Por isso, é dramático, mas não é trágico! A razão é dramática, é aprisionadora, a lógica não no é. A racionalidade aprisiona, mas não é inescapável, ao passo que a lógica, sim, o é.
Descartes trabalhou, quisera-o ou não, para o jesuitismo. Sua existência a partir do pensar não é humanismo, senão homenagem a uma existência recebida na forma de participação mais ou menos deformada no pensar criador, esse sim o pensar absoluto, que não precisa de objetos cognoscíveis, porque os teria criado.
O transplante do pensar absoluto para as criaturas é concepção que oferece obstáculos intransponíveis. O pensar dos seres que o receberam incompleto do pensador-criador não pode ser o mesmo do dador, senão estariam todos divinizados e seriam criadores. Para tentar evitar parte do paradoxo, aceitou-se divinizar os homens, parcialmente, mas não se aceitou fazê-los criadores.
Ficou-se pela metade. O homem pensa porque recebeu a faculdade do pensador-criador; existe porque pensa, já que existe pelo que tem de comum com o criador, e fica impossibilitado de pensar qualquer coisa, porque nada existe, já que nada além dele pensa. Claro, pode pensar no criador, mas tampouco o pode conhecer integralmente, porque ele é, ao final e ao cabo, insondável.
Um homem assim concebido vai buscar saída para seu pensar sem objeto possível. Vai tentar tornar-se ele também criador, mas de criaturas não pensantes, o que não resolve o problema, já que as suas criações não pensantes não existem, porque… não pensam! Ele está condenado ao círculo, à prisão sucedida por nova prisão.
Proposições inteligentes, e carregadas de obviedade, portanto, costumam esbarrar em obstáculo trivial: querem ser profecias e daquelas com data certa de acontecimento. Como nunca ocorrem na data que o profeta anunciou, ficam desacreditadas como se fossem bobagens. Mas, acontecem.
Um professor russo, de nome Panarin, disse, em 2009, que os EUA iriam desintegrar-se em 2010. Ele teria começado a pensar nisso em 1998, quando surpreendeu-se em perceber tendências à desagregação. Alinha que os colapsos econômico e moral e a imigração levarão a guerras civis fraticidas. Não sei, realmente, porque Panarin fez a bobagem de falar em 2010, quando podia ter silenciado quanto a datas que, afinal, pouco ou nada importam.
Essa idéia não é nova, como não costumam ser novas as grandes idéias. Elas são, no geral dos casos, o resultado da reunião de muitas informações aparentemente dispersas e a percepção da aproximação do episódio. As profecias, como as previsões sísmicas, ganham precisão na razão direta da proximidade do profetizado.
O tal professor diz que resultarão dessas guerras quatro estados: um da Califórnia, um do Texas, um do meio e norte e um do Atlântico. Afirma que o Alaska voltará a domínio russo e que o estado do Atlântico integrará a União Europeia.
É quase irresistível apontar que o profetizador tem à disposição um modelo relativamente semelhante, que ele deve ter usado mesmo, que é a desintegração do império romano. Alguém mais apressado pode objetar que o modelo não serve, porque Roma ter-se-ia desintegrado de fora para dentro. Isso é bastante discutível, porque os bárbaros estavam dentro do Império e há muito.
A desintegração romana deu origem à Europa e ao Norte da África, divididos em Estados. E deu lugar à formação de um império bizantino, que nada mais era que uma enorme Grécia organizada a partir da ortodoxia.
Essa desintegração dos EUA seria muito mais interessante para o mundo que seu declínio unido e lento. Primeiramente, se ela se desse a partir de guerras civis, como anunciou o professor, seriam evitadas guerras externas, que certamente ocorrerão se o país decair unido. Seria melhor, principalmente para os países habitualmente agredidos e também para os vizinhos das Américas.
Evitaria a difusão de certo fundamentalismo neo-pentecostal, porque estariam ocupados em brigarem internamente e lidarem com o próprio empobrecimento. Ou seja, os inimigos do mundo seriam fracionados em inimigos entre si mesmos.
Um problema grande seria a partilha dos arsenais nucleares, que provavelmente atenderia simplesmente a critérios geográficos, já que as bombas estão por todo o território. Outro problema grande seria o fim do dólar como moeda de reserva mundial, porque um dos estados resultantes não teria condições de manter tal moeda. Do ponto de vista do comércio mundial, as coisas não seriam tão complicadas quanto deverão ser com um cenário de decadência unificada, pois o consumo tende a reduzir-se de qualquer forma.
O certo é que se isso acontece assim, no cenário das guerras civis, deve levar muito tempo e esse tempo será de enorme desarranjo no mundo todo, com a fuga do dólar e o medo que a coisa torne-se em ataques para todos os lados, aleatoriamente…
Para o pessoal do petróleo, das armas, do aluguel de mercenários e das empreiteiras, ter deixado acontecer ou ter feito a derrubada dos prédios em Nova Iorque foi um tremendo negócio.
Trata-se de criar a própria demanda, coisa quase tão fantástica como descobrir o moto contínuo.
Para outros, minoritariamente norte-americanos, não foi tão bom…
Muitas coisas são comparáveis. Os tolos e os mal-intencionados sabem disso, mas só comparam segundo suas conveniências. Bem, dito isso, é bom saber que o salário mínimo, no Brasil, é de R$ 545,00, o que resulta em U$ 328,00, na taxa de câmbio comercial de hoje: 1,66 real/dólar norte-americano.
Em 2012, o salário mínimo será de R$ 620,00, ou seja, U$ 373,00. Os juízes do supremo tribunal federal e o procurador-geral da república querem que seus salários aumentem para R$ 30.600,00, ou seja, U$ 18.433,00. Eles querem ganhar 50 vezes um salário mínimo, diferença proporcional escandalosa, sob quaisquer parâmetros. Tal diferença não existe em canto algum, onde haja um salário mínimo legal e um salário máximo para a função pública.
Eles passam ao largo dessa obscena desproporção, porque ela os favorece. Por isso, dizem que as comparações são incabíveis. Se se tratasse de comparar para mostrar um eventual salário reduzido dos juízes, eles se serviriam das comparações com toda a tenacidade possível. Se fosse de seus interesses, eles publicariam nas portas dos fóruns as tabelas de salários de juízes e de salários mínimos, no mundo inteiro.
Apegam-se a aspectos formais desprezíveis, em posturas incompatíveis com a dignidade que pretendem e com a insistente ênfase para os tais cargos de soberania. Curioso, cargo de soberania que nunca passou por consulta popular, ou seja, pelo crivo dos soberanos, o povo.
Dizem que a constituição assegura a reposição das perdas inflacionárias. Realmente, a constituição tem esse objeto arqueológico e estúpido de indexação. Acontece que eles, os juízes do supremo, já decidiram várias vezes que essa cláusula constitucional é meramente formal! Sim, em várias questões sobre carreiras de funcionários públicos, esses senhores disseram que a garantia é de revisão anual, pouco importando de quanto.
Quando se trata dos interesse deles, a garantia assume ares materiais, diferentemente do que decidiram para outros. Isso é o que se espera de juízes? Espera-se que a mesma cláusula valha diversamente para classes em situações idênticas? Que julguem em causa própria?
Outra coisa notável é a arrogância que se descobre nas suas posturas. As mesmas pessoas que gostam de pedir tudo aos outros bem explicadinho, detalhadamente, que gosta de por os mortais a lhes pedirem suplicantemente, com genuflexões, como quem pede a deuses mal-humorados e caprichosos, expõe seus pleitos com uma superioridade mal-disfarçada.
Pedem um aumento absurdo como se fosse a maior trivialidade, uma coisa óbvia e previamente devida, certa, impassível de dúvidas. É de comover! Todo o restante do mundo assalariado tem que se expor a insistências, a explicações, a dar razões consistentes, mas esses senhores apenas devem comunicar o que desejam, para que seja ratificado. Mas, quantos votos eles têm?
Eles têm que explicar que valem o que pedem, porque pedem a todo o povo que custeia o Estado que lhes conceda o que acham devido por direito divino. Podiam lembrar-se que, há pouco mais de dez anos, pediam mais discretamente e recebiam nada, no caso específico do consulado de Fernando Henrique Cardoso. E este, Fernando Henrique, não os deu nada e não foi porque tenha consultado o povo, mas simplesmente porque não quis e não se preocupou com isso, forte em patrões robustos e ideologias religiosas que se queriam liberais.
Não há qualquer razão para o governo e o congresso cederem à chantagem judiciária. Uma greve de juízes? E daí? Se a fizerem, a imprensa contrária ao governo vai dar ênfase, mas o fará não porque queira que eles tenham o aumento, apenas porque qualquer coisa que sirva para falar mal do governo calha bem. Entrarão nesse comércio de cabeça, assumirão os riscos do flerte com a imprensa de baixo nível que domina a cena?
Posso ver esta cena da Pantera Rosa mil vezes. Há uma beleza cromática e dinâmica impressionantes, além da música, claro. Roupas dão o contraste em medida certa. Ao formal, subjaz o guia do filme. Clouseau conversa com um fulano, em atitude totalmente desconexa com o ambiente e, ao mesmo tempo, conexa, porque lá está.
O ladrão conversa com prováveis roubados por ele, elegante na forma – bem, é David Niven – inglês pouco britânico no seu à vontade erecto, ao lado do sobrinho também ladrão e também inglês.
E Clouseau dança ao contrário. Claro.
http://youtu.be/x17XjGTnzw4
Teria dito, ao final, para o servo na sua frente: faz teu trabalho, atira!
Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazón
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel
Pa’ una ciudad del norte
Yo me fui a trabajar
Mi vida la dejé
Entre Ceuta y Gibraltar
Soy una raya en el mar
Fantasma en la ciudad
Mi vida va prohibida
Dice la autoridad
Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Por no llevar papel
Perdido en el corazón
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Yo soy el quiebra ley
Mano Negra clandestina
Peruano clandestino
Africano clandestino
Marijuana ilegal
Solo voy con mi pena
Sola va mi condena
Correr es mi destino
Para burlar la ley
Perdido en el corazón
De la grande Babylon
Me dicen el clandestino
Por no llevar papel
Argelino clandestino
Nigeriano clandestino
Boliviano clandestino
Mano negra ilegal