Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Autor: Andrei Barros Correia (Page 35 of 126)

A herança da Casa Grande.

A herança da Casa Grande tem raízes muito profundas no imaginário brasileiro. É um conjunto de idéias e posturas que se instala automaticamente nas mentalidades, por um ensino realizado à força de repetição automática e inercial.

Quem sabe que não está na Casa Grande sabe também – como de um saber intuitivo e não consciente – que deve aspirar a ela. Que deve reproduzir os modos do senhor, imita-lo, ir-se tornando nele na maneira de ser o que acha que faz o senhor.

Nós brasileiros sabemos – uma pequena parte de nós, que viajamos – o que é truculência e estupidez na passagem pela imigração. O caso da estupidez reiterada no aeroporto de Madri basta como exemplo.

Todavia, nós fazemos o mesmo com aqueles que reputamos oriundos da senzala. Falo do caso dos haitianos, evidentemente.

O Brasil nunca foi rigoroso com entrada de estrangeiros, até porque os que para cá vêm são majoritariamente caucasianos, ou seja, são identificados ao tipo do senhor. Então, entram, ficam, se quiserem e como quiserem.

Mas, a programação mental é fortíssima. A lassidão que sempre tivemos com norte-americanos e europeus converte-se no rigor exasperado contra haitianos, bolivianos, peruanos, paraguaios…mesmo que estejam em situações rigorosamente iguais.

Sabe-se que algumas dezenas de estrangeiros, principalmente norte-americanos, trabalham no setor pretrolífero, no Rio de Janeiro. E eles entraram, em sua maioria, como turistas! Ninguém os importunou e acho que não devem mesmo serem importunados, desde que ninguém seja.

Coisa semelhante ao preconceito com os haitianos vê-se em São Paulo, relativamente a bolivianos, paraguaios e peruanos, que geralmente trabalham em semi-escravidão nas indústrias têxteis.

Eles são vítimas de profundos preconceitos dos paulistas e paulistanos. Engraçado, como se São Paulo tivesse alguma origem nobre e honrosa!

O grande mito fundador de São Paulo são os bandeirantes! Um grupo de assassinos, ladrões, baderneiros, escravizadores de índios. Criminosos que todos na corte queriam à maior distância possível. É muito interessante, a propósito, ver a idéia que deles fazia o Padre Vieira.

E essa gente sente-se à vontade para destilar preconceito contra sul-americanos que vêm para trabalhar dez, doze horas por dia. Ou seja, a mentalidade dicotômica Casa Grande Senzala vai se reproduzindo sempre, bastando para tanto um termo de comparação, um inferior prototípico.

Haitianos impedidos de entrar no Brasil.

A Polícia Federal brasileira detém 100 haitianos que desejavam entrar no país. É muito engraçada essa seletividade da polícia federal.

Em Fortaleza, Recife, Natal, para ficar em poucos exemplos, há centenas de espanhóis, italianos, alemães, sem visto, sem dinheiro, sem passagem de volta, sem educação. Enfim, só com vontade de frequentar bordeis. E a PF não os incomoda… Entram como turistas, para que não se precisa de visto, e ficam quanto tempo quiserem.

Os haitianos não podem ser admitidos como turistas? Será por conta da cor da pele? Será?

Inglaterra: uma fornecedora dos piores exemplos.

Um exemplo de modernidade e liberdade, na sempre celebrada Inglaterra, que se imputa a qualidade de origem do liberalismo:

Alan Mathison Turing foi matemático, lógico e cientista da computação. Tornou possível a aplicação de algorítmos em máquinas pré-computacionais. Considera-se um dos pais do que se entende por computador, hoje.

Durante a guerra trabalhou na decodificação das comunicações secretas da marinha de guerra alemã alemã, com êxito. Prestou, portanto, um imenso serviço ao seu país e ao esforço de guerra. Pode-se considera-lo um herói nacional britânico.

FOI PROCESSADO CRIMINALMENTE EM 1952, POR HOMOSSEXUALIDADE! Sim, na liberal e não socialista Inglaterra. E, sim, com relevantes serviços prestados ao Reino Unido!

Foi castrado quimicamente por meio de hormônios femininos, em 1954, por ordem judicial. Suicidou-se por envenenamento, profundamente deprimido com os efeitos de tão estúpida e agressiva medida, que desmembrou sua personalidade.

Para mim, é o episódio singular mais hediondo que conheço. Na Inglaterra!

Estreito de Ormuz: por que é fácil fecha-lo?

O estreito de Ormuz, nas passagens mais estreitas, tem em média 50 quilômetros. Ou seja, é mesmo muito estreito. Os navios passam, em média, a 30 quilômetros da costa iraniana.

Pois bem. O famoso míssil francês anti navio Exocet – AM39, MM40 e SM40 – tinha, no início, alcance máximo de 70 Km, quando lançado de avião ou helicóptero, e de 120 Km, quando lançado de terra ou navios.

Versões atuais desse míssil altamente confiável e provado em combate, têm alcances de 160 Km, lançados da superfície (terra ou embarcações). São os SM40 Block 3, que têm um propulsor inicial foguete e mantém-se em cruzeiro por meio de uma pequena turbina. Leva uma carga explosiva de 162 Kg e voa a mach 0.9. No final da trajetória, voa a 3 a 4 metros da superfície do mar.

Embora sejam relativamente lentos e a carga seja pequena, os Exocet são muito confiáveis e são detectados muito próximos da embarcação alvo. Para afundar um destroier, dois ou três são necessários, mas um simples impacto retira-o de ação.

Para afundar um petroleiro, um basta e não há hipoteses de ser detectado e abatido.

Os chineses, inteligentes, copiaram-no. Era a arma anti-navio mais usada no mundo. Dizem que reproduz as caracteristicas dos últimos modelos SM40 e MM40.

Os chineses venderam-nos ao Irã. O Irã, que também não é tolo e tem grandes engenheiros, desenvolveu sua própria versão, tendo conseguido inclusive fazer a pequena turbina a jato que impele o míssil em cruzeiro.

Ou seja, cinco ou seis baterias lançadouras na costa bastam para literalmente fechar o estreito de Ormuz, mesmo para naves bélicas…

O Irã, novamente, tem um brinquedo que a OTAN chama Sunburn. É um míssil gigante, sob quaisquer parâmetros, de origem russa.

Esse artefato anti-navio voa à impressionante velocidade de Mach 3 e, até bem pouco tempo, a marinha de guerra norte-americana considerava-o impossível de abater antes de atingir o navio. Era – e talvez continue a ser – o míssil mais letal para uma embarcação.

Leva 300 Kg de explosivos, a que se soma a imensa energia cinética do monstro deslocando-se a três vezes a velocidade do som. É capaz de voar a 3 m da superfície do mar e atingir a embarcação próximo à linha d´água.

Supõe-se que um só seja capaz de retirar de operações um daqueles imensos porta-aviões norte-americanos.

O Irã comprou uns poucos destes brinquedos e tudo indica que os copiou.

Não é à toa que alguns generais norte-americanos, retirados obviamente, estejam a fazer todos os esforços para evitar essa aventura estúpida que só interessa aos bancos de uma dúzia de judeus, que ganhariam muito com o caos…

Controle social da sexualidade: a ciência médica é mais violenta que o antinatural cristão.

A ciência médica é modelo de controle social da sexualidade pior e mais perverso que as postulações axiomáticas do antinatural cristão.

O antinatural oferece à luz do dia toda a sua não significação, porque o natural não é uma afirmação a que se possa contrapor outra. Era, portanto, um prisão muito menos opressiva que o imperativo científico.

O antinatural, inclusive, era prisão clamante por Eros, apta a despertá-lo, como todas as proibições destituídas de um real sentido perceptível. Por ser impossível, sempre foi possível e reclamou vigilâncias meramente formais.

A prisão técnica clínica, de ciência higiênica, serve-se de cadeias mais fortes. Seus postulados, independentemente de serem falsos ou verdadeiros, carregam em sí uma plausibilidade que o discurso científico deu-lhe.

A patologia amedronta muito mais que o antinatural. Signo da superioridade do modelo clínico é a aproximação que certos extremismos fazem dele, tentando agregá-lo ao antinatural, como reforço.

O modelo controlador de sexualidade a partir da ciência médica oferece a cura, enquanto o modelo cristão do antinatural oferece a salvação, se o praticante desviado optar pelo abandono do antinatural. É interessante perceber que certas religiosidades neo-pentecostais partiram para a assimilação do modelo clínico, o que se evidencia por vários sinais.

São comuns as abordagens da homossexualidade, pelos neo-pentecostais, como resultado da influência de demônios, que devem ser retirados. Ora, a possessão demoníaca é de claríssimo paralelismo com a infecção por agentes patogênicos, a serem combatidos para que se retirem do organismo infestado.

A infestação por demônios, assim como por vírus ou bactérias, insere um elemento estranho à subjetividade do infectado, elemento essencial ao modelo do antinatural. Esse ponto permite ver claramente as divergências dos dois modelos e as soluções por eles propostas.

Enquanto um postula a causa única e exclusivamente na vontade individual, o outro inclui elementos externos, embora não afaste totalmente o elemento subjetivo. Uma circunstância, todavia, põe em contato os dois modelos, que rejeitam, ambos, a causa originária da homossexualidade na conformação genética.

O modelo hoje adotado por inúmeras denominações neo-pentecostais consegue ser um hibridismo com efeitos piores que os resultantes das formas originais de que se serve. Ele controla e pune duplamente e fecha as oportunidades de excusa da culpa. Se, por um lado, o possuído não tem culpa da escolha dos demônios, ele a terá se os meios de tratamento – a terapêutica do exorcismo – não der resultados. É como se o doente fosse culpado pela ineficácia da terapia, algo muito caro à psiquiatria e à psicologia.

Assim, o discurso científico presta grande ajuda ao cerceamento de liberdades e serve às religiosidades mais obscurantistas…

Quais os limites do discurso imperialista norte-americano e europeu, fundado em democracia e direitos humanos?

Às vezes, significantes e significados parecem divorciados absolutamente. Quando se chega a tal ponto de dissociação, pode-se estar certo que o divórcio realmente deu-se.  Ora, níveis variáveis de dissociação entre significantes e significados são comuns nos discursos, mas a percepção de ruptura total é, sim, indicativa segura de seu acontecimento.

Claro que a questão passa pela autenticidade dos significados, posto que eles não se postulam como variáveis com margens alargadas. Os que assim são, por sua natureza, são os significantes, que são cambiáveis em ambiguidades resultantes da própria dificuldade em representar coisas.

Posso ser impreciso ao chamar cadeira a um banquinho de três pernas, mas a imprecisão não apontará necessariamente desonestidade minha, na medida em que duas coisas são verificáveis: 1 – que a cadeira existe, como objeto; e 2 – que o banquinho assemelha-se à cadeira. Além desses fatores, lembremos que posso estar diante de um problema como são as traduções.

Outra situação é aquela do discurso meramente teórico. Posso chamar cadeira a um banquinho, e cadeira ser um significante duplamente representativo, ou seja, de um significado conceitual, não factual.

Há um núcleo discursivo utilizado por governos centro-europeus e norte-americano – e por satélites oriundos da desagregação do Império dos Ingleses – que gira em torno à democracia e aos direitos internacional e humanos. Discurso que justifica, a posteriori, ações tomadas contra Estados soberanos.

Para que esse discurso faça sentido, é necessário que democracia e direitos humanos e internacional existam, em qualquer lugar. Eles somente existem se foram praticados, porque não são objetos materiais, são construção diária resultante de ações várias coordenadas.

O paradigma de existência deles é uma excentricidade: um modelo teórico. Pois bem, se assim é, ou quer-se que seja, temos que uma base conceitual é o molde em que práticas podem caber. Se as práticas couberem no molde, diz-se que existem democracia e direitos internacional e humanos. É um modelo jurídico, evidentemente.

Por outro lado, se práticas não configuram o que o modelo apresenta como receptáculo teórico, pode-se dizer que democracia de direitos internacional e humanos não existem, porque a realidade não se amoldou ao que se conceitua por essas coisas. A teoria prende a prática, na sua configuração formal, mas quiseram que assim fosse…

É claro, por ainda outro lado, que as práticas não se prendem pelas teorias, o que não apresentaria qualquer problema em um sistema dinâmico e aberto. Mas, embora o sistema geral da vida seja exatamente dinâmico e aberto, gostamos de fazê-lo de adequação póstuma, ou seja, de verificação de verdade da coisa pelo que se disse que ela era. Tudo bem, é válido.

O problema é que é uma prisão e desnuda hipocrisias profundas. O significado, em alguns momentos, deixa de existir absolutamente, enquanto o significante permanece disponível para os brados vais agressivos. Mas, a representação do nada é, ou o poder absoluto, ou a deificação, coisas, advirto, que não são iguais.

Hoje, para deixar a divagação teórica, tudo quanto são agressões de países a outros visam à dominação, notadamente o saque de recursos naturais. Sempre foi assim, desde que o mundo é mundo, mas há coisa nova. Hoje, ou há duzentos e cinquenta anos, as agressões fazem-se em defesa dos tais direitos humanos, internacionais e da democracia, e isso tampouco é o novo.

O novo é os defensores dos tais direitos e da democracia bradarem-nos em defesa do saque, sem ao menos cuidarem minimamente de aparentar cultivarem essas mesmas coisas. E, mais novo ainda é indignarem-se de alguém perceber que perderam esse cuidado, como se a inércia da agressão afastasse a necessidade da aparência.

Atualmente, os maiores agressores do mundo são, para ficarmos em número pequeno, os EUA, a Inglaterra e a França. Nunca esses países cuidaram de democracia e direitos senão superficialmente. Sabiamente, em outros tempos, protegiam esses valores internamente e esforçavam-se para esconderem a maioria das ocasiões em que o agir guia-se sem limites quaisquer além da força dos outros agentes.

O divórcio atual é completo e claro. É certo que apostam, inteligentemente, na burrice e desinformação generalizadas, mas até essa aposta revela-se demasiada, ante a flagrância da dissociação. Eles seguem falando o que não fazem nem aparentemente.

É muito engraçado que os governos francês e alemão insistam em serem democráticos e que, ao mesmo tempo, tenham deposto um governo grego que aventou a possibilidade de convocar um plebiscito sobre um assunto que interessa aos gregos. Contradição? Evidente.

É engraçadíssimo que intervenções nas políticas internas de vários países ocorram a bem de suprimir a falta de democracia neles, quando os interventores protegem outros países em que não há o menor, mínimo, traço de democracia.

É notável que os direitos humanos – seja lá o que for isso – sejam invocados por um país onde se pode ser preso sem acusação formal, onde investigações sigilosas são possíveis, onde um cidadão pode perder a nacionalidade por ato discricionário, em um país que mantém um campo de concentração. Notável também que os parceiros a leste desse país discursem mais baixo, mas com mais pretensão a sofisticação, no mesmo sentido e sejam cúmplices de uma rede de prisões ilegais. Mas, falam de leis.

Algo de bom nessa aproximação da ruptura há: é que se aproxima o vale-tudo não intermediado pelo entulho discursivo.

Arrogância com ignorância. Três norte-americanos bêbados na Índia.

Arrogância e ignorância juntas resultam no seguinte: três norte-americanos à volta dos 40 anos estavam no estado indiano de Tamil Nadu.

Encheram a cara, na comemoração da passagem de ano, e julgaram estar em algum local de gente permissiva e, principalmente, submissa. Se estivessem no Brasil, teria dado certo, porque reunimos essas duas qualidades em altas doses.

Bem, puseram-se a assediar as mulheres que passavam na rua e a tentar agarra-las e beija-las à força.

Eles, em geral, têm por hábito ignorar completamente os costumes dos países que visitam e acreditam serem recebidos como dádivas a serem compreendidas. Mais que isso, pretendem-se destinatários de toda complacência e reputam o mundo não ocidental um grande bordel.

O resultado: foram espancados por pessoas indignadas com a indignidade e, depois, presos…

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