http://youtu.be/v5Hcf3eSA6w
Autor: Andrei Barros Correia (Page 33 of 126)
http://youtu.be/0STOpGPSv1Y
Antes dos pecados e dos pagamentos por eles, vai uma advert^^encia. O texto n~~ao ter´´a a grafia correta dos acentos agudo, grave e circunflexo e do til. ´´E problema de um v´´irus – um malware, para ser correto – que infecta meu computador. Esse neg´´ocio ´´e absolutamente genial e sutil. ´´E o v´´irus mais destruidor que j´´a vi, porque, a princ´´ipio, reputa-se uma bobagem. Todavia, rapidamente, percebe-se que ele inviabilizou a comunicaç~~ao e o trabalho a partir do computador.
N~~ao ´´e poss´´ivel escrever em portugu^^es sem os acentos e o til, sem que se produza um texto, ou ileg´´ivel por cansativo, ou sem significaç~~ao, por quest~~oes de sem^^antica. O mais ´´obvio que me vem “a mente ´´e o per´´iodo que comece com o verbo ser flexionado na terceira pessoa do singular. N~~ao consigo, nas atuais condiç~~oes, dizer ele ´´e! O v´´irus faz que saia isso que se viu: dois acentos agudos e a vogal e.
Tentarei, para ser menos cansativo que incompreens´´ivel, fazer o seguinte: suprimirei o til e usarei o acento agudo como o v´´irus imp~~oe. Assim, n~~ao ser´´a nao, mas ´´e ser´´a ´´e. Segunda-feira, ou formato o computador, ou tenho um infarto, ou compro outro…
Pecar e pagar ´´e delinquir para ser absolvido e delinquir de novo, para ser novamente absolvido e assim sucessivamente. ´´E algo que faz sentido para as pessoas, individualmente, pois o pecado p´´ublico suporia uma alma p´´ublica e pl´´urima, algo meio dif´´icil de conceber.
O pecado vem a prop´´osito das interpretaç~~oes da crise econ^^omica que se lançam nos media. De uma forma geral, fala-se de expiar a culpa da prodigalidade nos gastos feitos com dinheiro que nao se tinha. Ou seja, as pessoas endividaram-se para manter padroes de consumo incompativeis com seus rendimentos reais e isso conduziu a uma crise economica enorme, que ameaça os EUA e a Europa.
Que as pessoas gastaram demais, ´´e certo. Agora, conv´´em observar o que significa as pessoas terem gastado demais, o que se encontra na raiz disso e o que isso pode acarretar.
As pessoas gastaram muito porque lhes disseram que o deviam fazer. As pessoas, as maiorias, fazem o que lhes dizem que façam, sempre. E so fazem o que ´´e poss´´ivel fazer. Ora, s´´o se gastou demais porque houve e ainda h´´a cr´´edito demais. E cr´´edito, sabemos quem o disponibiliza.
A consequ^^encia de terem gastado demais ´´e estarem endividadas, o que ´´e otimo para governos e bancos. Os endividados terao que pagar juros mais altos pelos creditos tomados, porque convencionou-se que o tamanho da divida ´´e risco do nao pagamento dos seus juros.
Os riscos de emprestimos feitos por bancos sao calculados precisamente por eles, inclusive no que respeita “as possibilidades de incumprimento em que os governos entram em cena. No limite, trata-se de levar o maximo de gente ao endividamento e de levar os governos a garantirem as dividas, porque eles podem apanhar dinheiro do todo das populaç~~oes para transferir aos bancos.
O que surge como um problema dos cidadaos Joao, Jose e Joaquim torna-se um problema do Estado, que assume dividas variadas e impoe a todos parcela de sacrificio, ate aos que nao se tinham endividado.
Aquilo que se resolveria no calote, classico e praticado varias vezes na historia, torna-se uma contaminaçao generalizada de dividas a comprometerem os Estados. A maior parte dos defices publicos nao passa de assunçao de dividas privadas pela entidade que pode socializar os prejuizos.
Essa bomba pode ser desarmada se for possivel desarmar a bomba do moralismo contaminante da pseudo-ciencia economica.
A Senhora Merkel ´´e filha de um pastor luterano, o que ´´e repleto de significados. Ela, e a maioria que ela representa, acreditam em retribuiçoes divinas para a alma coletiva. Retribuiçoes que se fazem pela austeridade de um povo pedidor a Deus e seguidor de uma moral auto-penitente e auto-glorificadora.
Ora, todos os povos europeus pedem a alguem, aos Deuses que lhes convem e geralmente ao Deus que se diz o mesmo, sempre. Por que recebem diferentemente? Est´´a claro que nao ´´e uma questao de Deus ou nao Deus, ´´e uma questao de dominio.
Tambem esta claro que as pessoas tem que se sentir culpadas e expiadoras de uma culpa que n~~ao se sabe bem qual ´´e.
http://youtu.be/1Qkcha4QVmM
Chico Anysio era inteligentissimo; nao era erudito, mas muito sagaz, de uma percepçao ampla dos tipos sociais. Era capaz de pintar em cores fortes e traços grossos, como em caricatura, e em traços finos e sutis.
O urubu com raiva do boi vale mais que muitos livros de sociologia e antropologia juntos…
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Jeitinho brasileiro é expressão consagrada pelo uso amplo, que acarreta ambiguidade e perda de precisão. Qualquer coisa usada muito prodigamente sofre esse problema da perda de significação precisa, o que deveria levar as pessoas a pensarem o que pretendem dizer realmente.
Isso que se chama jeitinho brasileiro é uma forma de agir derivada da apropriação pelas massas do exemplo fornecido pelas classes dominantes. Todavia, a raiz desse agir costuma ser escamoteada por meio do destaque de aspectos laterais ou, simplesmente, pela não abordagem do objeto e de suas origens: é a técnica da caricatura, que pinta as coisas em tintas fortes e contrastantes até serem somente uma representação pitoresca que nada tem a ver com o representado.
O jeitinho é, pois, algo que o brasileiro acredita ser uma criação original, exclusiva e, mais importante, popular. Ele não é popular na origem, porque ao povo não são dadas essas liberdades para o protagonismo na definição dos comportamentos prototípicos de um povo. Na verdade, ele é a reivindicação do povo na participação no vale-tudo que sempre foi possível às elites.
As camadas populares assim pediram e assim obtiveram uma pequena complacência e possibilidade de flexibilizarem regras que insistentemente se dizem gerais, amplas e obrigatórias para todos. Ou seja, um pouco do que a minoria sempre teve e nunca escondeu, embora sempre a dizer que as regras existem e valem para todos. Aqui, vem à mente a inevitável pergunta: para quê a insistência em regras?
Com relação ao jeitinho brasileiro, duas inclinações são nítidas, diametralmente opostas, embora ligadas uma à outra. Há os que o celebram como criação originalíssima dos brasileiros e há os que o atacam a partir da lógica da tolerância zero. São duas formas de propagar a estupidez. Não pretendo ater-me à má-fé como motivo, tanto da celebração, quanto do ataque, que essa motivação é menos interessante, na medida em que é racional.
A celebração da originalidade, da espontaneidade e da felicidade que seriam ínsitas ao jeitinho é filha da ignorância histórica e de outras culturas. Ora, o jeitinho brasileiro não é mais original que outras formas de estar no mundo próprias de sociedades com profundas concentrações de rendas e divisões estamentais marcantes e sempre veladas. Assim, ele é tão brasileiro como africano sub-saariano, como andino, para ficar em dois exemplos genéricos.
O jeitinho satisfaz a necessidade de sermos os legisladores imediatos de todos os casos concretos das nossas vidas. Assim é que violamos todas as regras de trânsito de automóveis – e todos os dias, reiteradamente – porque é rapidinho, porque estamos prontos a desviola-las. Paramos onde não pode, mas é rapidinho, ou seja, deixa de ser uma violação porque ela é fugaz; retornamos onde não pode, mas é coisa pequenina e tem quem faça pior.
No fundo, é como se disséssemos que a lei é absolutamente inútil. Não é o caso de dizermos que a lei comporta excepções, mas de a interpretarmos tão frequentemente e em causa própria, que significa sua inexistência. A regra torna-se conforme à nossa vontade em todos os momentos; é uma regra tão aberta a interpretações que regra não é, apenas interpretação. Aliás, esse é um aspecto que deixa ver o quanto de plebeísmo tomou conta do poder judiciário, que age da mesma forma.
O jeitinho é personalismo levado às últimas consequências, ao contrário dos traços de gentileza social que pretendemos ver nele. É todo sujeito a agir em benefício próprio, segundo regras que são a negação das regras, fazendo a lei a todo momento para si. Isso é fermento de dissolução de alguma coesão social porventura ainda existente. Não é algo a ser celebrado.
Na visão diametralmente contrária, há quem veja o jeitinho como simples falta de rigor, ou seja, sob a óptica da tolerância zero. Ora, a tolerância zero equivale à inteligência zero. A total falta de escape é incompatível com a vida, pois as excepções existem. A lógica da tolerância zero é contrária à noção de julgamento segundo as intenções do agente. Na verdade, é a instituição da punição sem julgamento, porque se a tolerância é zero, não se toleram defesas!
A condenação veemente do jeitinho como simples falta de rigor é ignorância histórica profunda. Nunca faltou rigor, no Brasil, para as classes menos favorecidas, o que se evidencia nas suas condições de vida: são as maiores vítimas de violência; são as maiores vítimas da deficiência do sistema de saúde pública; são as maiores vítimas do péssimo sistema de educação privada.
São ridículas – ou hilárias, a depender do senso de humor do observador – as acusações de leniência e falta de rigor, como raízes do jeitinho. Ele nasceu exatamente como forma não autorizada de escape das violências profundas sofridas diariamente pela maioria das pessoas no país. Ele não inverte a equação, ou seja, ele não torna justamente pagas as violações historicamente sofridas.
O jeitinho brasileiro não é original mesmo no que parece ser. É o conúbio, para pior, dos interesses do 01% e dos 99% restantes.