O financismo globalista venceu as eleições presidenciais francesas por conta da precisa atuação da imprensa corporativa, que se alinhou explicitamente ao candidato Emmanuel Macron e usou as estratégias corretas à vista do público destinatário de sua narrativa. Chamaram-no centrista e isto foi ponto central.
De certa forma, a disputa concentrada no campo direitista gerou uma necessidade de se renovar o discurso favorável ao pólo financista globalista, pois a situação é diversa da oposição com a esquerda – seja a real, seja a fictícia. Criou-se, então, um banqueiro egresso da casa Rothschild e fermentado por think tanks direitistas centrista, por mais sem sentido que isso possa parecer a quantos informem-se razoavelmente.
Mas a criação do centrista foi exitosa, por um lado, e fez sentido, por outro. Teve êxito porque delimitou a oposição formal à candidata rotulada extremista. E fez sentido porque o termo centrista referiu-se apenas à pauta de costumes, esquecendo-se totalmente qualquer significação sócio-econômica que pudesse ter.
O centrismo e o extremismo foram definidos em termos de costumes e direitos civis. A imprensa evita a todo custo aproximar-se de assuntos concernentes a distribuição de riquezas e a soberania, que são marginalizados como relíquias de tempos passados. Quando trata disso, é superficialmente e a partir do manual de lugares-comuns do liberalismo triunfante e axiomático, aquele dos termos eficácia, modernidade, reforma e tantas outras tolices semelhantes, que nada significam além de compressão social.
O extremista – de esquerda ou direita – é o banido, o interditado e maldito, em relação a que todo o resto é preferível. Muitas vezes, o interdito é construído por justaposição de adjetivos que já são anacrônicos à vista do que atualmente representa. A candidata Marine Le Pen, muito mais que fascista, no sentido adequado do termo – sentido que remete à história – é a representante da insatisfação dos pobres de direita. Ela é o nacionalismo de direita, enfim, embora em formato diferente do gaulismo.
Mas ela foi demonizada, como era previsível, e as eleições rumaram para uma situação muito fácil para o vencedor. Contra o proibido tudo é válido, mesmo que o outro perceba-se como apenas o menos ruim. Ou seja, há percepções relativas que têm um alcance pre definido, que não podem ir a fundo.
Neste caso francês, o dito acima aplica-se às eleições presidenciais, apenas. Não se aplica ao governo que será constituído depois das eleições legislativas, nem às convulsões que haverá com a aplicação das reformas liberais precarizantes das situações dos mais pobres.
A situação que criou a insatisfação por trás do amplo apoio obtido por Le Pen não será revertida pelas políticas prometidas por Macron. Antes, será amplificada, como é previsível na medida em que das causas provém as consequências. E, passadas as eleições, a narrativa usada no embate não serve de remédio para a realidade cotidiana.
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