Escrevo agora somente por escrever. Bem, essa foi a fórmula comum e mais simples que achei para dizer que divago ou que tenho tais e quais saudades. Tudo misturado e bem difuso: vontade de escrever, saudades, mania de comida, memória gustativa e olfativa…
Há dois anos e tantos conhecíamos um restaurante indiano, em Braga. Levou-nos a ele o Miguel, sujeito inteligente e capaz de perceber o que poderia agradar. O restaurante tem nada demais, além de uma comida boa. O dono é uma figura curiosa, diz que é sikh, aponta como garantia de pertencimento a esse povo originário do norte da Índia um bracelete fino, prateado, que trás no punho.
Fala um português razoável, diz que acha mais fácil entender alemão, comenta as ambiguidades da língua nossa e de Camões, que tem várias palavras para a mesma coisa, reclama de vizinhos brasileiros, que são piores educados que os caboverdianos. Enfim, ele faz o papel do indiano legítimo, que é.
Esse restaurante indiano faz parte da minha memória bracarense. A comida boa, a conversa com Miguel, o café depois, depois casa, a gata amarela esperando-nos ou sabendo que chegávamos, o livro, a crônica a ser escrita, o vinho de três euros, o futebol na televisão velha que era quase preta-e-branca.
Hoje à tarde, Braga assaltou-me de surpresa, no trabalho. Ela costuma voltar-me em outras ocasiões, mas hoje foi no trabalho, à tarde, sem pedir licença, sem me dar mais que um leve desconforto de estar aqui, assaltou-me só de saudades inesperadas.
Na verdade, esse assalto não foi o que me inspirou a fazer o caril de amanhã. Já o vinha planejando, mas ele tomou sentido diverso da simples idéia de cozinhar qualquer coisa. Virou caril de saudades, o que vai me tornar mais condescendente com o resultado, provavelmente.
Não fui apresentado ao caril no tal restaurante em Braga. Já o conhecia e apreciava, por conta dos bons que faz Laura, que tem ascendência goense e sabe fazê-los muito bem feitos, um pouco suavizados no picante, para não desagradar os paladares mais sensíveis.
Pois, amanhã será caril de perna de porco e peito de galinha. Eles já estão em sumo de uma laranja – invenção que não sei se resultará bem – um pouco de sal e gengibre. Amanhã saberei…
Eu também saberei! 😀
Olívia e Andrei, quando vierem a Recife avisem antes e preparo para voces um caril o mais proximo possivel dos que costumava apreciar em minha casa quando era criança e o meu pai controlava a qualidade dos ingredientes e do resultado final.
Um beijo, Laura.
Muito obrigado, Laura.
O caril de hoje ficou bonzinho. Acho que podia estar mais picante e que ficou muito suave. Da próxima vez, deve sair melhor.
Sim, comemos com arroz basmati, indiano. Muito bom, bastante cheiroso e de grãos longos. Tem um perfume levemente adocicado. Já usaste?
Beijos.