A rebelião das massas é indissociável do mito da invulnerabilidade e da crença irracional e fetichista no progresso. Portanto, é indissociável da pequena-burguesia, seu meio de cultura por excelência.
Essas crenças, hoje triunfais a ponto de não se indagar do estado anterior de coisas, como se estágio anterior não tenha havido, não resultaram de alguma evolução natural. Realmente, a história e as conformações sócio-culturais nada têm de naturais, assim como não há natureza humana. Essas coisas são criadas dentro das possibilidades e da plasticidade social.
Aquilo que uns anteviam nos anos de 1920, estabeleceu-se avassaladoramente depois da segunda grande guerra. O modelo norte americano de superficialismo, consumismo e auto-engano triunfante dominou os dois lados do Atlântico e parte da Ásia. E fez estragos duradouros, que não mostram sinais de reversão. Antes, contrariamente, a rebelião das massas continua a dar seus mais patéticos exemplos.
Não é no povo mais pobre que a massificação revela-se no seu mais profundo ridículo, mas na classe média alta. Está última adotou o plebeísmo supremo que é viver conforme à moda como estratégia constante de uma ação que parece pressupor a inexistência de história, ou seja, o presente contínuo. Há um aparente paradoxo em viver na moda e estar como em um presente contínuo. Mas, como dito, somente aparente, basta pensar um pouco.
Incapaz de construir a própria narrativa de suas aspirações e defesa de seus interesses de classe – por demasiado ignorante e insincera – ela recebe da imprensa o que reputa ser um discurso a revelar absoluta comunhão de interesses entre os emissores e os receptores. Não percebem que os pontos de contato são esporádicos e que a imprensa defende-se apenas a si própria.
Essa incapacidade de percepção decorre de ter acreditado – entre outras dezenas de tolices – na inexistência de classes. Assim, recebem discurso pronto desde cima e creem que ele representa a defesa de interesses comuns a vários grupos muito diferentes. Há nisto, obviamente, algo mais patético, que é o constante achar-se parecido com o 01%, ou seja, o identificar-se por cima, que é muito revelador do espírito do servo.
A moda, a poucos dias do início do mundial de futebol no Brasil, é torcer contra a seleção nacional. Torcer contra a seleção brasileira é, para a classe média alta, uma forma de reclamar do governo central, porque queriam apropriar-se do que é gasto com os mais pobres. Foi-lhes ensinado pela imprensa que esta é atitude eficaz e de gente cosmopolita, ou seja, de gente que já foi comprar tudo que podia em Buenos Aires e Miami e aborrecer-se em Paris sem poder dizer isso, claro. Mas, esse discurso soa moderninho apenas dentro da classe média alta, embora ela não o perceba.
Acontece que a imprensa faz e desfaz o discurso anti seleção brasileira conforme seus interesses comerciais e é certo que ganharão muito dinheiro neste mundial. Ou seja, há um momento em que se mostra necessário recuar desta estupidez, sob pena de, além de perder dinheiro, indispor-se com outros setores que também ganham muito e com a maioria da população, que não acha muita graça nesse sentimento contra a seleção do país.
Dos aspectos mais curiosos é que a classe média alta não se sentirá traída quando a imprensa esquecer-se do besteirol de torcer contra a equipe nacional. Sim, porque ela crê sinceramente que a idéia é sua e não algo recebido de fora e assimilado perfeitamente porque a mensagem tinha destinatário certo.
Não apenas ignorante e insincera, esta classe caracteriza-se pela covardia frente ao grandioso a par com a disposição para fazer muito barulho por bobagens. Assim, ela não tem coragem para ir brandir seu espírito anti-copa e anti seleção nacional em frente aos sindicatos dos hotéis, bares, restaurantes, aeronautas, trabalhadores nos transportes em geral, por exemplo. Seria interessantíssimo que o fizesse…
Interessantíssimo também, a revelar que replicam com defasagem o que se lhes ensinou, é que nunca houve coisa semelhante, nas mesmas dimensões, nos outros mundiais de futebol, disputados em toda parte. Ora, se se tratasse de algo pensado e original, sua ocorrência seria mais ou menos estável ao longo do tempo. Mas é histeria e tem todos os ingredientes disto.
Uma parte dos alto médio classistas abandonará esta tolice e torcerá pela equipe nacional, esquecendo-se da anterior fúria discursiva e atendendo à temporária suspensão do discurso pela imprensa, que estará ocupada em ganhar dinheiro com publicidade. Outra parte permanecerá como está, mas não acusará a imprensa de ter cessado a carga, porque é fiel à crença de que este anti seleção saiu das suas próprias cabeças.
Agora, engraçadíssimo será se o Brasil for campeão….
Essas manifestação nas ruas para mim não passam de oba-oba. Lembro-me muito bem de que, quando o Brasil foi escolhido para sediar a copa, foi uma festa generalizada. Agora, como num passe de mágica, todo mundo é contra.
A mídia que tanto aplaudiu na época é a mesma que hoje tanto critica. O problema é que, na época devida, ninguém protestou.
Particularmente não sou a favor nem contra a realização da copa aqui. Só acho que o momento oportuno para protestar contra já passou. Aliás, no momento oportuno muito se comemorou. Protestar agora beira ao oportunismo. De minha parte, se pudesse, assistiria a todos os jogos numa televisão de 60″ com imagem full HD. E, claro, torcerei pela seleção brasileira. A propósito, comprei dois ingressos para assistir a um jogaço com meu pai na arena em Recife: Japão X Costa do Marfim, dia 14/06. Ficarei acenando para vocês me verem pela TV. Aliás, melhor levar um cartaz com os seguintes dizeres: “O São João de Caruaru é melhor que o de Campina Grande”.
Mestre Alcides tá de muito bom humor! Juro que verei este Japão x Costa do Marfim pela televisão.
Esse negocio da imprensa é mau caratismo mesmo. Eles ganharão muito dinheiro com o futebol e querem ganhar também algum argumento para atacar o governo.
Oportunistas, querem sempre as duas coisas.
Patética é a postura dos playboys de classe média alta anti-copa e supostamente preocupados com serviços públicos no Brasil, como se se preocupassem com algo e como se usassem serviços públicos.