Lembro-me de que quando vivia em uma cidade pequena nos anos 50’s, o “espetáculo visível” era menos frequente e chegava com algum retardo de vários dias ou meses, geralmente em revistas, jornais ou pelo cinema.
O espetáculo “carro novo” era muito raro na cidade e o delírio foi total quando apareceu um AeroWillys cor de vinho.
Não havia televisão nem nada de imagens “ao vivo”. Tanto os jornais, como as revistas e os filmes do cinema viajavam até lá de trem a vapor e alguns anos depois a diesel.
Ouvia-se pelo rádio de ondas curtas sobre o “espetáculo do dia”, já ocorrido e não mais necessariamente ocorrendo, e tinha-se tempo para parar em um bar ou na casa de um amigo para comentar sobre as notícias e para tentar entendê-las.
O pacote não chegava tão pronto para ser assimilado sem questionamentos. Também era mais fácil ser pró ou contra Fidel Castro pois as opções de ideologias eram bem menores… apesar de já existir falsidade ideológica. Mas, lia-se, conversava-se e polemizava-se mais.
Ouvi sobre o assassinato de Kennedy em um radio portátil de ondas curtas no meio da praça da cidade e depois fiquei esperando o Reporter ESSO no rádio AM à noite dar mais detalhes (nesse dia ninguém dormiu na cidade, mil “viúvas de Kennedy”, como dizia o meu pai já p. da vida com o zum zum, choravam na cidade, inclusive a minha mãe; penso que até a zona da cidade fechou…).
Há alguns anos atrás, em Dallas, estive no local onde acertaram os tiros em Kennedy e aproveitei para recordar a imagem que eu tinha produzido do evento e do lugar a partir das informações que ouvi no rádio no dia do famoso evento.
Um cara passou na calçada, viu-me olhando para o meio da rua e disse rindo algo com o sotaque do Texas, que entendi como: “yeah, ’twas rite there”. Penso que a versão que ele devia ter “do espetáculo” que eu estava revivendo era bem mais diferente do que a que eu tinha.
Na copa de 1958, no jogo final Brasil x Suécia ouvimos o grito do primeiro gol do jogo no rádio de ondas curtas e pulamos para comemorar… até que a transmissão melhorou e entendemos que o gol tinha sido da Suécia. Era assim sem satélite…
Vivia-se menos angustiado, ou seja, o nosso SAMSARA (o ansiar sem fim) era muito menor e o caminho óctuplo do Buda era bem melhor seguido (o tal do “não se apegue ao consumismo de noticias, de bens, de expectativas, etc.”).
Era fácil só se apegar a poucas coisas quando não havia muitas.
A televisão com notícias ao vivo via satélite começou a nos trazer mais angústias e a internet acabou por consolidar o eterno SAMSARA, ao nos condicionar a ver o que temos no mail 10 vezes por dia e a procurar ver as manchetes de todos os jornais do mundo… e também os blogs dos amigos.
Para terminar de lascar tudo veio o infame do celular, o estressador de almas por excelência.
Tenho que admitir que já decidi retardar a minha iluminação, não necessariamente pela causa justa como o faz um bodhisattva, mas para curtir um pouco do samsara do consumismo e do apego ao conhecimento imediato e à beleza de alguns “espetáculos”, mesmo que seja o vôo de uma arma de destruição como o de um caça moderno.
Buda, que nos sugere meios de nos perdoarmos, há de me orientar sobre esses deslizes no seguimento da doutrina, ah,ah,ah, mas reconheço mesmo que não estou conseguindo mais visualizar com boa clareza onde fica o “caminho do meio” diante de tantas e sedutoras veredas e “espetáculos” a poder seguir e a participar (vai mesmo ver um dia o show do Crazy Horse em Paris…).
Temos que reinventar o Budismo… com internet, celular, comida boa (é de lascar aguentar só arroz em mosteiros) e cama confortável.
Excelente!!!
Lembro-me de que quando vivia em uma cidade pequena nos anos 50’s, o “espetáculo visível” era menos frequente e chegava com algum retardo de vários dias ou meses, geralmente em revistas, jornais ou pelo cinema.
O espetáculo “carro novo” era muito raro na cidade e o delírio foi total quando apareceu um AeroWillys cor de vinho.
Não havia televisão nem nada de imagens “ao vivo”. Tanto os jornais, como as revistas e os filmes do cinema viajavam até lá de trem a vapor e alguns anos depois a diesel.
Ouvia-se pelo rádio de ondas curtas sobre o “espetáculo do dia”, já ocorrido e não mais necessariamente ocorrendo, e tinha-se tempo para parar em um bar ou na casa de um amigo para comentar sobre as notícias e para tentar entendê-las.
O pacote não chegava tão pronto para ser assimilado sem questionamentos. Também era mais fácil ser pró ou contra Fidel Castro pois as opções de ideologias eram bem menores… apesar de já existir falsidade ideológica. Mas, lia-se, conversava-se e polemizava-se mais.
Ouvi sobre o assassinato de Kennedy em um radio portátil de ondas curtas no meio da praça da cidade e depois fiquei esperando o Reporter ESSO no rádio AM à noite dar mais detalhes (nesse dia ninguém dormiu na cidade, mil “viúvas de Kennedy”, como dizia o meu pai já p. da vida com o zum zum, choravam na cidade, inclusive a minha mãe; penso que até a zona da cidade fechou…).
Há alguns anos atrás, em Dallas, estive no local onde acertaram os tiros em Kennedy e aproveitei para recordar a imagem que eu tinha produzido do evento e do lugar a partir das informações que ouvi no rádio no dia do famoso evento.
Um cara passou na calçada, viu-me olhando para o meio da rua e disse rindo algo com o sotaque do Texas, que entendi como: “yeah, ’twas rite there”. Penso que a versão que ele devia ter “do espetáculo” que eu estava revivendo era bem mais diferente do que a que eu tinha.
Na copa de 1958, no jogo final Brasil x Suécia ouvimos o grito do primeiro gol do jogo no rádio de ondas curtas e pulamos para comemorar… até que a transmissão melhorou e entendemos que o gol tinha sido da Suécia. Era assim sem satélite…
Vivia-se menos angustiado, ou seja, o nosso SAMSARA (o ansiar sem fim) era muito menor e o caminho óctuplo do Buda era bem melhor seguido (o tal do “não se apegue ao consumismo de noticias, de bens, de expectativas, etc.”).
Era fácil só se apegar a poucas coisas quando não havia muitas.
A televisão com notícias ao vivo via satélite começou a nos trazer mais angústias e a internet acabou por consolidar o eterno SAMSARA, ao nos condicionar a ver o que temos no mail 10 vezes por dia e a procurar ver as manchetes de todos os jornais do mundo… e também os blogs dos amigos.
Para terminar de lascar tudo veio o infame do celular, o estressador de almas por excelência.
Tenho que admitir que já decidi retardar a minha iluminação, não necessariamente pela causa justa como o faz um bodhisattva, mas para curtir um pouco do samsara do consumismo e do apego ao conhecimento imediato e à beleza de alguns “espetáculos”, mesmo que seja o vôo de uma arma de destruição como o de um caça moderno.
Buda, que nos sugere meios de nos perdoarmos, há de me orientar sobre esses deslizes no seguimento da doutrina, ah,ah,ah, mas reconheço mesmo que não estou conseguindo mais visualizar com boa clareza onde fica o “caminho do meio” diante de tantas e sedutoras veredas e “espetáculos” a poder seguir e a participar (vai mesmo ver um dia o show do Crazy Horse em Paris…).
Temos que reinventar o Budismo… com internet, celular, comida boa (é de lascar aguentar só arroz em mosteiros) e cama confortável.