Um dos assuntos preferidos de parcela da classe média brasileira é a carga tributária, considerada responsável única pelos altíssimos preços dos automóveis no país. Assim, duas coisas caras a esse estrato social juntam-se: o desejo por automóveis e o anseio de falar mal do governo, mesmo que ele não tenha prejudicado os reclamantes.
Não seria razoável esperar que pessoas adestradas por Veja, Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e Globo agissem diversamente. Além do medo atávico de mudanças que lhes possam desfavorecer – o medo da ascensão das massas – elas são bombardeadas diariamente com tolices na forma de lugares-comuns repetidos à exaustão.
Carga tributária é um mantra. Repete-se até ser repetido espontaneamente pelo alvo da propaganda. Subjazem a carga tributária noções como as de Estado hipertrofiado, Estado ineficiente, inibição do mágico espírito empreendedor e outras mais, de viés oportunista.
Nunca é demasiado lembrar que o discurso anti-Estado, no Brasil, é feito preferencialmente por aqueles que mantém uma estreita simbiose com ele, que vivem da predação do público e do Estado. Não há, na verdade, discurso liberal puro neste país em que todos serviram-se do Estado para assaltar a maioria.
As camadas médias vivem à mercê do que uma imprensa de péssimo nível, parcialíssima mas sempre a falar de imparcialidade, lhes põem na cabeça. Elas não agem criticamente, nem quando isso é recomendável sob perspectiva conservadora. Não se aceitam como médios oportunistas a surfarem a onda da inércia constante, a grande invenção brasileira: o moto contínuo socio-econômico. Não, são os vitoriosos da meritocracia.
Pois bem, consagrou-se a idéia de que os carros são caros por conta da carga tributária e só. De nada adianta dizer que a carga tributária é inferior àquela praticada em todos os países europeus, onde os carros são mais baratos. De nada adianta dizer que a questão é de margem de lucro.
Esse é um mercado que se tornou grande, tem muita demanda reprimida, consumidores ignorantes – no sentido próprio do termo – e ansiosos por comprarem sem questionarem muito os preços, nem cogitarem de suas composições. Ou seja, é o ambiente ideal para a prática de margens de lucro extorsivas.
O mercado dava sinais de desaquecimento e o governo, a propósito de minimizar tal efeito, lançou medidas, ontem. Por exemplo, o IPI – Imposto sobre produtos industrializados – para automóveis feitos no país, com motores até 1.0 litro de deslocamento, foi de 7% para zero, até 31 de agosto deste ano.
Sim, o IPI dos carros com motores de mil cilindradas foi reduzido a zero! É intuitivo que as montadoras de automóveis não repassarão toda a redução aos preços, que devem cair um pouco.
O resultado será interessantíssimo: além de manter milhares de empregos, anulará o discurso imbecil da carga tributária. Ou seja, os preços não cairão na mesma proporção da redução de imposto e o governo poderá dizer que o imposto nunca foi o elemento principal dos preços altos.
Claro que haverá o pessoal da lógica do urubú com raiva do boi. Dirão que houve renúncia fiscal e que isso é ruim. Sim, mas esquecerão de dizer que o cerne do problema ficou nu, que era a avidez das montadoras a causar os preços elevados.
Rapaz, a propósito dos impostos, estão querendo subir o IVA na Espanha pra 22/23%, o mesmo que em Portugal! E a confusão aqui ta grande! Estão aGreciando Portugal, e Portugalizando a Espanha.. Heheh
Mas por enquanto, ainda não chegaram, portugueses nem espanhóis, ao ponto de querer sair da zona do euro… Vamos ver os próximos capítulos da novela…
Putz, IVA de 23% na quarta maior economia da zona EU 27 é de matar.
Não creio que as populações queiram a saída do euro, mas acho que as classes dominantes alemãs e o povo alemão que vai a reboque, quererão.
Eles acham que são ricos independentemente dos outros.
Nesse ponto, o caso espanhol é mais importante que o italiano.
Duda,
Aconteceu coisa semelhante com os juros. Há um dicurso – ou havia – de que são muito elevados. Claro que são.
Quando foram reduzidos, a imprensa achou ruim!
Quer dizer, trata-se de achar ruim por achar ruim, por oposicionismo mal disfarçado.
O governo adotou medidas de claro liralismo keynesiano, mas os auto-proclamados liberais acham ruim. Ou seja, não são liberais de porra nenhuma, são predadores.