Situação social brasileira.
Foi divulgado o mais recente Relatório sobre Desenvolvimento Humano, da ONU, em que distribuição de rendas é uma variável das mais importantes para compor o índice de Gini. Constata-se que entre os quinze países com as piores distribuições, dez encontram-se na América Latina e Caribe.
E o Brasil tem a terceira pior distribuição de rendas da região latino americana e caribenha. Piores que o Brasil, apenas a Bolívia e o Haiti. E tem a décima pior entre os 126 países considerados para a realização do relatório. Uma situação evidentemente terrível, que precisa ser abordada às claras.
O relatório ajuda a desfazer alguns mitos verdadeiramente pueris que são mais ou menos aceitos. Um deles, parente próximo de outras tolices como a democracia racial brasileira, é aquele da mobilidade social. E uma das resultantes da crença na mobilidade social é a ênfase na detenção de recursos por méritos pessoais.
Isso é negado pelos dados existentes, pois desigualdade na apropriação de rendas e baixa mobilidade social estão fortemente associadas. No caso brasileiro, o nível de renda dos pais influencia no dos filhos em 60% das situações. Isso aproxima-se muito mais de uma rígida sociedade de castas que de algum país que cultive a meritocracia sob qualquer forma.
Apurou-se, ainda, que três fatores influenciam o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – negativamente. São as desigualdades de renda, as desigualdades no acesso à educação e no acesso à saúde, nessa ordem de importância. Assim, percebe-se porque o IDH brasileiro é tão baixo, à vista deste país ter estúpidas desigualdades nos três fatores citados.
O estudo assevera que as políticas de redução de desigualdades – nos três campos apontados – são fundamentais para a elevação da qualidade de vida das populações, quer dizer, para a elevação do desenvolvimento humano.
Políticas de distribuição de rendas vêm avançando no Brasil, notadamente a partir do primeiro governo do Presidente Lula. Todavia, são tímidas frente ao tamanho das desigualdades. Os 10% mais ricos apropriam-se de 70% da renda nacional, em um quadro absolutamente selvagem e desconexo de qualquer variação natural de aptidões das pessoas.
Embora as recentes melhoras, por meio de transferências públicas e garantias de rendas mínimas, sejam modestas, as reações conservadores que se levantam contra essas políticas são violentas. Percebe-se a brutalidade das reações no jogo sujo que se faz contra a candidata do Presidente Lula às eleições presidenciais de outubro próximo.
Bastou que a candidata Dilma Roussef fosse identificada ao intuito de avançar um pouco mais nas políticas redistributivas para que ela se tornasse o alvo de ataques repetidos e infundados por parte de alguns partidos políticos e de grande parcela da imprensa. Realmente, o modelo concentrador assusta-se com a mais pequena possibilidade de perder uma e outra migalha, em benefício de um aumento geral da qualidade de vida.
Chega a ser burrice histérica essa aversão a uma evidência. Burrice porque situações como a brasileira significam níveis de compressão social tão elevados que os donos do poder deviam perceber que a entrega de um ou dois anéis poderia salvar-lhes os dedos. Não percebem…
Como foi dito antes, subdesenvolvimento não se improvisa, é obra de séculos.