Processos e mais processos, tolices e mais tolices, tudo muito tolo e presunçosamente importante e urgente. Prazos, argumentos que servem para nada, excepto para serem eles mesmos uma coisa, porque são nomes e nomes sem verbos. Representações de si mesmas a ocuparem o tempo fazem dele prisão.
Essas coisas do dia-a-dia são sempre as mesmas. O que dramatiza seus efeitos é sua pretensão à importância e nossa sucumbência a essa situação, porque são obrigações.
Que haja obrigações é algo normal. Problema é esvaziarem a cabeça ou encherem-na somente de bobagens que postulam a situação preeminente. Quase conseguem, assim, fazer esquecer as trivialidades que não se querem filosofias ou grandes obrigações.
E quase esqueço uma estória saborosa, simples e curta, que escutei outro dia desses. Estória bem nossa, daquelas em que o principal é a sagacidade de uma personagem. Estória feita sob medida para ser contada oralmente, com volteios ou com ida direta ao ponto; com alterações na entonação da voz, com repetições enfáticas. Enfim, coisa de ser falada e não escrita.
Por isso, atrevo-me a contar a estória, mas com receios. Sim, porque escrita não produz os efeitos de falada.
O caso é que antigamente, nessas terras nordestinas, não se compravam roupas feitas, mandavam-se fazer. E as fazedoras de roupas eram as costureiras, que alfaiates já eram um degrau acima em sofisticação e só faziam roupas para homens. Tanto a costureira, quanto o alfaiate, todavia, eram figuras do comum, ou seja, não eram o que hoje chama-se estilista e que atua no espaço da exclusividade.
As costureiras faziam roupas de homem e de mulher, indistintamente. A coisa toda passava por comprar-se o tecido, ter alguma idéia do resultado desejado e procurar a costureira. Então, a costureira iria tirar as medidas do cliente, anota-las e, eventualmente, dizer-lhe que comprasse mais tecido, pois aquele não dava. Depois, podiam ser necessárias novas medições e ajustes, o que implicava nova visita à costureira.
Esse era um processo meio complicado e, às vezes, demasiado custoso para uns. Sim, porque o sujeito que mandava fazer uma roupa não residia necessariamente no mesmo local da costureira; estamos em agrestes e sertões com muitas cidadezinhas pequenas e afastadas umas das outras, com transportes precários e difíceis.
Nesse ambiente, destacou-se uma costureira do Cariri Paraibano, não sei de qual cidade. Ela tinha uma habilidade muito peculiar e valiosa para quantos homens quisessem mandar fazer uma camisa, por exemplo. Ela não precisava tomar as medidas do cliente!
Chegasse alguém conhecido – dela e do cliente – e dissesse que seu fulano queria fazer uma camisa, ela simplesmente perguntava de onde era o cliente. Mas, como, perguntava o interlocutor? Sim – dizia – só preciso saber de onde o sujeito é. Só de onde é? – impressionava-se o intermediário. Sim, pelo lugar de onde é o cabra eu sei o tamanho, as medidas, tudo.
E fazia as camisas, que se ajustavam perfeitamente, apenas a partir da origem do cliente!
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