Niemeyer é realmente um gênio com as formas e com os “composées”…. para o imenso terror dos engenheiros que têm que fazer os cálculos estruturais de suporte às suas concepções arquitetônicas não convencionais.
Já fiquei um bom tempo apreciando a arquitetura dessa catedral mas nunca me senti muito seguro debaixo de um daqueles anjos pendurados no teto… tenho a impressão de que os cabos de aço que os seguram são finos e que há anos não são inspecionados. E os anjos balançam com o vento.
Em princípio, é muito improvável um cabo de aço desses romper; na catedral de Toledo, na Espanha, os cardeais são sepultados e os seus chapeus cardinalícios são pendurados ao teto por cordas de couro acima dos seus túmulos. Reza a lenda, que quando o chapeu de um cardeal cair sobre o seu túmulo a sua alma subirá aos ceus.
Até agora, nos últimos 500 anos, não caiu um só chapeu.
Pensando nisso acho que deverei acreditar na segurança dos cabos de aço dos anjos da catedral de Brasília mas… “This is Brazil” e será que dá para acreditar?
A cúpula da basílica de São Pedro em Roma tem duas correntes de aço atuando como um cinturão para impedir que ela se abra sobre o próprio peso; uma das correntes está lá “de reserva”. Anos atrás havia uma só corrente… que estava a ponto de se romper. Será coisa da Itália?
A Catedral Metropolitana e o Palácio do Itamaraty são dois dos prédios mais bonitos do mundo. Jóias arquitetônicas de proporções perfeitas, leveza extrema, espaços abertos improváveis, curvas insinuantes.
Niemeyer, que é um intelectual erudito, embora homem de modos simples, conhece os modelos históricos.
A Catedral, como não se cansava de dizer um meu tio, capta elementos inovadores de Santa Sofia de Constantinopla. A iluminação – no caso dela, a de Brasília, por imensos vitrais.
Os imensos anjos pendurados na cúpula são aqueles candelabros enormes de Santa Sofia, os três pendurados a diferentes alturas, para dar uma forte perspectiva e noção de espaço.
Um homem ateu – ou agnóstico, não sei – foi capaz de fazer a igreja moderna mais bonita que há. Não era burro, sabia que a capital precisava de um templo desse, independentemente de suas convicções pessoais.
Concordo plenamente com as suas observações sobre a beleza da catedral e do Itamaraty em Brasilia.
Entretanto, tendo estudado alguma coisa de segurança de ambientes de trabalho, eu não projetaria escadas sem corrimão ou sem paredes laterais, nem mesmo a rampa do Palácio do Planalto.
Não estou dizendo isso para ser contestador ou para comentar sem consequencia.
Os arquitetos, que têm mentes muito livres, deveriam também ser submetidos às normas de segurança do trabalho e imaginar que uma escada no Itamaraty em espiral e sem corrimão é um convite a que um diplomata bêbado venha a cair.
Os degraus de uma escada devem ter todos exatamente o mesmo comprimento e altura. O primeiro degrau subindo ou descendo é denominado de “degrau de convite”. O seu cérebro memoriza o espaçamento entre os degraus e você consegue depois percorrer a escada sem olhar para baixo.
O corrimão em uma escada, além de ser ponto de apoio, é também uma referência espacial de distância lateral, mesmo que a escada seja muito larga ou que tenha uma passarela bem delimitada.
Entretanto, reitero que sou um admirador profundo de Niemeyer e dos seus projetos, com as escadas dele com ou sem corrimão.
Pois é, Sidarta. A escada do Itamaraty, sem corrimão, é perigosíssima mesmo. Deve ser por isso que quase nunca é usada e puseram um tapete no centro dos degraus, para dar algum atrito.
Duas vezes que a desci, senti-me inseguro, como em meio ao nada. Talvez por isso, também, todos descem-na pelo meio, para ter alguma sensação de segurança.
Mas, é uma jóia de leveza, naquele salão com meia lage curva. Bonito mesmo.
A rampa do Palácio do Planalto é muito larga, não chega a inspirar desequilíbrios.
Não é a propósito do teu comentário, mas lembro-me que muita gente – pessoas tacanhas, daquelas que lamentam a saída da capital do Rio de Janeiro – acusam Niemeyer de ser pouco funcional.
Os prédios monumentos – o Planalto, a Catedral, o Itamaraty, o STF, o Congresso – são pouco funcionais mesmo e pronto.
São bonitos e foram feitos para sê-lo, como sempre disse Niemeyer. Para funcionar, há os anexos, onde as pessoas trabalham. Os palácios são para serem admirados e inserirem-se na paisagem da cidade planejada.
Um grande homem, que aos 103 anos, disse que é comunista, sempre foi, acha tolo quem diz que foi e deixou de ser. É ateu, sempre foi, acha tolo quem diz que deixou de ser porque achou uma qualquer outra verdade.
Nada obstante, fez uma igreja – mais de uma, lembrando a Pampulha – deu-se bem com grandes liberais clássicos, como Juscelino. Nunca se deu bem, todavia, com a canalha fardada e com os direitistas ladrões.
Andrei,
Niemeyer é realmente um gênio com as formas e com os “composées”…. para o imenso terror dos engenheiros que têm que fazer os cálculos estruturais de suporte às suas concepções arquitetônicas não convencionais.
Já fiquei um bom tempo apreciando a arquitetura dessa catedral mas nunca me senti muito seguro debaixo de um daqueles anjos pendurados no teto… tenho a impressão de que os cabos de aço que os seguram são finos e que há anos não são inspecionados. E os anjos balançam com o vento.
Em princípio, é muito improvável um cabo de aço desses romper; na catedral de Toledo, na Espanha, os cardeais são sepultados e os seus chapeus cardinalícios são pendurados ao teto por cordas de couro acima dos seus túmulos. Reza a lenda, que quando o chapeu de um cardeal cair sobre o seu túmulo a sua alma subirá aos ceus.
Até agora, nos últimos 500 anos, não caiu um só chapeu.
Pensando nisso acho que deverei acreditar na segurança dos cabos de aço dos anjos da catedral de Brasília mas… “This is Brazil” e será que dá para acreditar?
A cúpula da basílica de São Pedro em Roma tem duas correntes de aço atuando como um cinturão para impedir que ela se abra sobre o próprio peso; uma das correntes está lá “de reserva”. Anos atrás havia uma só corrente… que estava a ponto de se romper. Será coisa da Itália?
Grande abraço,
Sidarta
A Catedral Metropolitana e o Palácio do Itamaraty são dois dos prédios mais bonitos do mundo. Jóias arquitetônicas de proporções perfeitas, leveza extrema, espaços abertos improváveis, curvas insinuantes.
Niemeyer, que é um intelectual erudito, embora homem de modos simples, conhece os modelos históricos.
A Catedral, como não se cansava de dizer um meu tio, capta elementos inovadores de Santa Sofia de Constantinopla. A iluminação – no caso dela, a de Brasília, por imensos vitrais.
Os imensos anjos pendurados na cúpula são aqueles candelabros enormes de Santa Sofia, os três pendurados a diferentes alturas, para dar uma forte perspectiva e noção de espaço.
Um homem ateu – ou agnóstico, não sei – foi capaz de fazer a igreja moderna mais bonita que há. Não era burro, sabia que a capital precisava de um templo desse, independentemente de suas convicções pessoais.
Andrei,
Concordo plenamente com as suas observações sobre a beleza da catedral e do Itamaraty em Brasilia.
Entretanto, tendo estudado alguma coisa de segurança de ambientes de trabalho, eu não projetaria escadas sem corrimão ou sem paredes laterais, nem mesmo a rampa do Palácio do Planalto.
Não estou dizendo isso para ser contestador ou para comentar sem consequencia.
Os arquitetos, que têm mentes muito livres, deveriam também ser submetidos às normas de segurança do trabalho e imaginar que uma escada no Itamaraty em espiral e sem corrimão é um convite a que um diplomata bêbado venha a cair.
Os degraus de uma escada devem ter todos exatamente o mesmo comprimento e altura. O primeiro degrau subindo ou descendo é denominado de “degrau de convite”. O seu cérebro memoriza o espaçamento entre os degraus e você consegue depois percorrer a escada sem olhar para baixo.
O corrimão em uma escada, além de ser ponto de apoio, é também uma referência espacial de distância lateral, mesmo que a escada seja muito larga ou que tenha uma passarela bem delimitada.
Entretanto, reitero que sou um admirador profundo de Niemeyer e dos seus projetos, com as escadas dele com ou sem corrimão.
Grande abraço,
Sidarta
Pois é, Sidarta. A escada do Itamaraty, sem corrimão, é perigosíssima mesmo. Deve ser por isso que quase nunca é usada e puseram um tapete no centro dos degraus, para dar algum atrito.
Duas vezes que a desci, senti-me inseguro, como em meio ao nada. Talvez por isso, também, todos descem-na pelo meio, para ter alguma sensação de segurança.
Mas, é uma jóia de leveza, naquele salão com meia lage curva. Bonito mesmo.
A rampa do Palácio do Planalto é muito larga, não chega a inspirar desequilíbrios.
Não é a propósito do teu comentário, mas lembro-me que muita gente – pessoas tacanhas, daquelas que lamentam a saída da capital do Rio de Janeiro – acusam Niemeyer de ser pouco funcional.
Os prédios monumentos – o Planalto, a Catedral, o Itamaraty, o STF, o Congresso – são pouco funcionais mesmo e pronto.
São bonitos e foram feitos para sê-lo, como sempre disse Niemeyer. Para funcionar, há os anexos, onde as pessoas trabalham. Os palácios são para serem admirados e inserirem-se na paisagem da cidade planejada.
Um grande homem, que aos 103 anos, disse que é comunista, sempre foi, acha tolo quem diz que foi e deixou de ser. É ateu, sempre foi, acha tolo quem diz que deixou de ser porque achou uma qualquer outra verdade.
Nada obstante, fez uma igreja – mais de uma, lembrando a Pampulha – deu-se bem com grandes liberais clássicos, como Juscelino. Nunca se deu bem, todavia, com a canalha fardada e com os direitistas ladrões.
A alusão à foice e ao martelo no monumento a Juscelino em Brasilia é perfeita ao deixar clara a sua marca ideológica nas suas obras.