Um homem foi a um banco, em São Paulo. Os bancos têm aquelas famosas portas duplas, de vidro reforçado, com detectores de metais. Caso o aparelho aponte que há metais, as portas travam-se e os agentes de segurança do banco intervêm. Habitualmente, a pessoa põe em uma pequena janela os objetos de metal que traz consigo e as coisas se resolvem.
O cidadão em questão tem um marca-passo – um pacemaker, como se diz em inglês – que é de metal e, por razões óbvias, não pode ser retirado e colocado na janelinha. Ele trazia um atestado médico apontando que tinha um marca-passo implantado sob a pele, provavelmente para explicar-se em situações desse tipo. E, devia ter êxito sempre, porque aquela não era a primeira vez que ia a algum banco.
Sucedeu que o segurança do banco cultivava a estupidez em níveis muito elevados e não compreendeu o que se passava. Iniciou-se uma discussão entre o homem, trancado na porta de vidro, e o segurança. Pelas tantas, o agente entendeu que a coisa mais apropriada a fazer era sacar de seu revólver e disparar na cabeça do homem! Sim, esse imbecil armado disparou um tiro na cabeça de um cidadão. O projétil transfixou o alvo e atingiu ainda outro homem.
Assaltantes não ficam parados em portas de bancos a discutirem com os seguranças, pedindo para entrarem. Geralmente, não falam, entram aos tiros. Tampouco andam munidos de atestados médicos que afirmam serem portadores de marca-passo, como estratégia ardilosa de entrar em bancos, induzindo os seguranças a abrirem as portas, pois geralmente entram aos tiros mesmo.
O descontrole e a incapacidade de compreender e lidar com situações próprias do trabalho, com relação a quem trabalha armado, não é uma bobagem qualquer. Onde está o maior risco, deve estar a maior responsabilidade e capacitação. Ora, é estúpido que a reação de um segurança de banco a um homem que tenta convencê-lo de que tem um marca-passo e que isso é o motivo dos apitos do detector de metais, seja disparar na cabeça do homem, pura e simplesmente.
A porta estava trancada, o homem não esboçou ânimos de entrar violentamente, o segurança podia simplesmente retirar-se e chamar a polícia, podia assumir inúmeras atitudes, todas evidentemente menos estúpidas que a por ele escolhida. Isso acontece em maiores proporções com as forças policiais, que desconhecem quase em absoluto as noções de proporcionalidade.
Sempre que cometem algum arbítrio e excesso de violência dizem que as vítimas esboçaram reações. Ora, essas mesmas vítimas geralmente estão completamente desarmadas e não têm condições efetivas de qualquer reação que ponha a polícia em risco. Ainda assim, as condutas policiais frequentemente desacambam para a violência desmedida e desproporcional aos riscos e aos fins visados. Algo como atirar com canhões para matar moscas.
Está impregnada na alma nacional a bipolaridade de reações e condutas. Oscilamos entre a total falta de reações e as mais extremadas e violentas possíveis, incapazes de fazer o que dá mais trabalho, ou seja, cuidar de cada situação na medida de sua gravidade e empregando os meios proporcionalmente necessários.
Andrei, nesses quase 28 anos de banco já vi muitas empresas de segurança surgirem do nada. Do dia para a noite. Coronéis vão para a reserva e resolvem criar uma milícia travestida de empresa de segurança de transporte de valores e de bancos e outros clientes. Treinam absurdamente mal seus funcionários, que armados, põe em risco a vida dos clientes. Muito mais que defender o patrimônio maior que é justamente a vida de quem lhes paga o salário. Na hora do assalto (eu fui penta e não quero se hexa nem com a febe tife) já vi vigilante chorar, se ajoelhar, levar porrada, ficar todo cagado, etc. Já vi também (coisa rara) vigilante se agarrar com ladrões e levar uma camada de pau quase posto a morrer e por pouco não causar uma tragédia na agência. Já vi muita coisa. Inclusive vigilante ladrão. Que entra para entregar o jogo todinho para a quadrilha. Agora, esse incidente nos lembra, de que sob qualquer aspecto, nosso país sempre se supera quando se trata da violência urbana.
Realmente, Domingos, esse ramo de segurança privada tem contornos mafiosos.
O trabalho de fazer segurança em bancos é dificílimo e se for conduzido sem profissionalismo torna-se um fator a piorar as situações.
Pois é, já vi e ouvi diversas consideraçoes e opinioes sobre este eposidio e, todas elas usam a análise mais simples e de carater mais superficial, ou seja, mais ou menos na mesma direçao…de um “cao danada todos a ele”.
Ninguem, mas ninguem defendeu este probre coitado, todos, mas todos bateram nele como o “Cao bateu em Mestre Alfredo”.
Ora quem é este cidadao que esta trabalhando como vigia? sera que é algum advogado, médico, engenheiro, sociologo, pessoa bem aquinhoada? financeira e intelectualmente, morador de um bom local, com boa capacidade de discernimento?
Nao, gente, é um filho do povo, sem nenhuma formaçao, sem esperança de futuro, agarrado naquele emprego dar comida a sua família, pressionado pela sua empresa para exercer a defesa daquele patrimonio a qualquer custo, pois se fraquejar,for molenga, nao mostrar serviço, pode ser posto para fora e, ate ser considerado conivente com os assaltantes. É por ai, vamos fazer uma análise mais justa, mais coerente, porque, senao ja, ja estaremos defendendo a pena de morte para soluçao dos nossos nossos problemas.
Monte,
Realmente, o segurança é, sob alguns aspectos, refém de toda uma situação que impõe a busca de soluções a qualquer custo.
Ele atuou na dicotomia extrema violência – extrema leniência. Evidentemente, não tinha preparo para a função.
Mas, é razoável esperar que as pessoas reajam com um mínimo de razoabilidade e proporcionalidade.
No fundo, uma reação dessas evidencia que a sociedade pensa nesses termos, embora escandaliza-se quando o que pensa materializa-se.
É um falso escândalo, se se considerar que muitos fariam o mesmo. Aí reside o problema, precisamente em que o extremo é a forma de atuação aceita pela maioria.
É inviável acreditar-se em paz social quando o grupo cogita que um tiro na cabeça é a solução adequada a uma altercação verbal.
Por isso, vivemos com os níveis elevadíssimos de violência cotidiana. Os estratos dirigentes colaboram ativamente para piorar as coisas, acrescentando doses cavalares de hipocrisia.
Vejamos o caso das algemas, que o stf considerou indevidas. Sabemos que os mais pobres continuam a serem espancados e algemados, enquanto meia dúzia de juízes faz discurso de liberdades e coisa e tal.
Não acho que a questão seja de vitimizar os vigilantes. Muitos são bons profissionais (embora minoria). Trabalhei com alguns raros exemplos, embora as empresas não os tenham treinado, lhes dado balas que não funcionam, revólveres enferrujados. Sem coletes. Com salários de fome. Uma arma na mão de uma pessoa propensa a violência transcende a questão da escolaridade. Agora é fato de que, as empresas de vigilância proliferam sem controle algum e deveriam ter o sistemático acompanhamento da Polícia Federal, a quem lhes cabe por Lei, o devido monitoramento. E no fim quem recupera a vida perdida?