As vinha no Douro, em algum dia entre setembro e outubro de 2009.
Já falei disso em outra ocasião, mas não foi bastante, porque volta à memória. Não é que escreva para acalmá-la, mas para cultivá-la enquanto ela pede. Não é que o faça para apagá-la, tampouco, mas para obedecer-lhe.
Essa fotografia é um pouco como o cheiro do chá e dos biscoitos do episódio da busca do tempo perdido. Um pouco porque não evoca infância e camadas sucessivas de lembranças, que eu nunca estivera no Douro. Mas, ela é o estímulo visual que me põe a pensar no que vi, igual e diferente do que se vê no instantâneo. Ela – a fotografia – não me põe lá novamente, esse é o problema e o défice poético.
A imagem somente coloca-me nas minhas próprias recordações, o que é muito mais complicado que estar, não estar ou querer tornar a estar em algum sítio. As recordações envolvem mais que o instantâneo, mesmo para quem é refém da forma plástica, como sou. A beleza da paisagem é óbvia e devia ser suficiente, que era para mim inédita.
Acontece que acrescentamos ao visto o pensado. E – sem achar que seja ruim ou bom – vivo a meter o pensado em tudo, ajuntando aspectos vários ao que me fascina à primeira passada de olhos. Penso que assim construo as lembranças, aumentando-lhes o peso, somando ao que chega às retinas o que os miolos inventam de pensar.
Essa postura não é a sucumbência às idéias do patife do Platão, criador de dois mundos, porque não se trata de uma ideologia nem de acreditar que as coisa sejam duas e só duas. É apenas o meter minhas concretudes em cima das concretudes reais e fazer outra coisa.
Mas, basta de subjetividade.
A paisagem é realmente linda e passa muita tranquilidade.Não estive neste sitio mas gostaria.