Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Vou-me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira.

A infância e os sítios dela deviam ser tempo e locais de sonho para um grande poeta que a tuberculose destruía lentamente.

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

1 Comment

  1. Domingos Sávio

    Caro Andrei, soube agora lendo no blog do Roberto, que hoje é o dia nacional da poesia. Não poderia haver poema melhor. Parabéns. Coloquei no fusca um texto de Clarice que é bem marcante. Manuel Bandeira é biscoito fino. Muito bom.

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