Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Bordaberry é novamente condenado. E o Brasil insiste em não tratar as coisas com seriedade.

Juan María Bordaberry tornou-se presidente do Uruguai em 1971, a partir de eleição suspeita de fraudes. Em 1973, deu um golpe de estado, dissolveu o parlamento, os partidos políticos e suprimiu as liberdades civis. Instalou-se como ditador até 1976, quando os militares uruguaios acharam de substituí-lo por Alberto Demicheli.

Era ligado ao franquismo e a certo monarquismo carlista castelhano. Postulava um ideário conservador das tradições hispânicas que, na verdade, era conservador de tradições monárquicas, dinásticas e católicas de Castela, ou seja, um saudosismo anacrônico do Império Espanhol, branco, puro, católico e borbónico.

Foi processado e julgado culpado por quatorze homicídios havidos durante sua ditadura e posto em prisão domiciliar por razões de saúde. Agora, foi novamente condenado, mas não por assassinatos. Desta feita, foi considerado culpado por atentar contra a Constituição Uruguaia ao promover o golpe de estado em 1973.

Os exemplos dos países vizinhos ao Brasil não frutificam nele. Somos os tais homens cordiais, de Sérgio Buarque.

Acreditamos no acordo eterno, feito por cima e com a exclusão das maiorias. Acreditamos na possibilidade de comprar o silêncio da história. Acreditamos que violações das leis e das integridades físicas são bobagens desde que não nos atinjam diretamente. Acreditamos que o terror pode ser mantido sob controle e que nunca nos atingirá, pessoalmente, desde que nos alinhemos com os terroristas. Acreditamos que o assassinato é uma tolice, desde que o morto não seja dos nossos.

2 Comments

  1. Rafael Vilar

    Você acha que haveria risco da instabilidade democrática se posturas sérias como esta fossem tomadas no Brasil?

  2. Andrei Barros Correia

    Não acho realmente que houvesse riscos de alguma instabilidade.

    Os riscos seriam de se esperar onde houve mais violência, por exemplo, na Argentina. Todavia, lá estão a julgar ditadores e torturadores e a vida segue. Claro que não tem sido a coisa mais calma, porém avança.

    O verdadeiro risco, no Brasil, é sedimentarmos de vez a cultura do desprezo histórico e não a da precaução. De sedimentarmos a impunidade como regra.

    Até no Chile a coisa anda!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *