O Zorro era um fidalgote meio castelhano da Baixa Califórnia. Estudara na Europa e voltara com frêmitos de defender os oprimidos dos opressores, ou seja, dele próprio e de sua classe. Mas, essas questões de coerência política das personagens e tolice. De certa forma, o Zorro é um transplante da figura de garbo e virilidade da cultura ibérica, ou seja, do toureiro. Basta imaginar aqueles seus trajos pretos agora coloridos em vermelhos e amarelos para vê-lo como um toureiro.
Houve, contudo, uma falsificação: o Zorro norte-americano, um cowboy como tantos outros, de chapéu branco. Essa figura era o Lone Ranger, o Cavaleiro Solitário, que, não sei porquê, ficou conhecido também como Zorro. Esse Zorro branco – vou chama-lo assim e evitar a distinção verdadeiro e falso – acompanhava-se de um índio, chamado Tonto.
Tonto era a figura aparentemente anacrônica do escudeiro subserviente, devoto ao patrão por opção lúcida e livre de quem vê no outro a superioridade caucasiana do colonizador. Advirto que a culpa de ser possível essa análise não é minha, mas da própria fábula e das disciplinas de história e de sociologia. A provar essa condição do índio Tonto, veja-se que o Zorro branco era o Cavaleiro Solitário não obstante andasse acompanhado! É preciso muito desprezo para lançar-se a uma tal contradição.
Mas, vamos para a anedota, que é a que se refere o título. Um certo dia, deslocavam-se o Cavaleiro Solitário e o índio Tonto por paragens que podiam ser da Califórnia, de Nevada ou do Novo México ou qualquer uma. E viram-se cercados de uma tribo hostil de índios, os selvagens inimigos com quem o Zorro branco batia-se de tempos em tempos. A despeito da fartura de munição e da grande competência com as armas, o Zorro branco percebe que não há escapatória e que seriam capturados ou eliminados pelos peles-vermelhas.
Então, o Cavaleiro Solitário diz para o índio Tonto: Estamos perdidos, Tonto! E o índio replica: Nós, quem, cára-pálida?
Que sirva a piada para fazer pensar os que desacreditam das identificações, nas horas limites.
hehehehehehe ótimo, ótimo!!
ótimo texto! Inclusive porque as vezes passa o contrário, no meio dos Cavaleiros Solitários, os índios desavisados pretendem se passar por um dos outros se acreditando igual, e não é por se acompanhar do Lone Ranger que se torna igual, na verdade, não há a possibilidade de igualdade… Pois nas horas limites…
É verdade Severiano. Nem sempre a mímese garante resultados práticos. Mas que tem muitos adeptos, isso tem.
Estava lembrando. Na hora da verdade, podemos ser todos sudacas, não Vevel?