Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Dilma Roussef é favorita nas presidenciais e o golpismo volta à cena.

Carlos Lacerda, patrono da campanha de José Serra.

Não existe direita liberal no Brasil e isso sempre foi um problema. Não existe até mesmo por imperativo de coerência, porque não há iniciativa privada em sentido próprio neste país. Aquilo que se chama iniciativa privada atenderia melhor pelo nome de oportunismo privado de iniciativa com capitais públicos.

No lugar político que caberia a uma direita liberal, existe um grupo que discursa contra o Estado, ao tempo em que precisa apropriar-se dele a qualquer custo. Esse grupo pretende-se liberal e democrata, mas é visceralmente hipócrita e golpista, portanto anti-democrático na essência. Seu modelo encontra-se em Carlos Werneck Lacerda.

Lacerda dedicou a vida a urdir golpes de estado, incapaz de ganhar nas eleições aquilo que ele e seu partido desejavam. Nada obstante, fazia-o a bem da democracia! O modelo lacerdista de política fica bem compreendido na sua proposição a respeito da iminente eleição de Juscelino Kubitschek. Disse que Juscelino não podia vencer as eleições, se vencesse não podia assumir e, se assumisse o cargo não podia governar. Realmente, é uma bela síntese da ideologia golpista.

Essa figura infame era bastante conhecida por seus aliados. Jânio Quadros, de quem Lacerda era aliado, desprezava-o profundamente. Os militares que deram o golpe de estado de 1964, de quem Lacerda era aliado entusiasta, desprezavam-no também e cassaram seus direitos políticos em 1968.

Pois bem. A candidata à presidência Dilma Roussef está à frente de seu oponente, José Serra, nas pesquisas eleitorais, seguindo uma trajetória de evolução constante nas intenções de votos. É natural que assim seja, pois representa o Presidente mais bem avaliado da história brasileira, enquanto seu oponente representa um Presidente que faliu o país três vezes e deixou a maior dívida pública da história como legado.

O candidato José Serra, que originalmente não integrava o núcleo neo-fascista brasileiro que tem no golpe sua linha de ação política, encontra-se plenamente envolvido por essa gente, presentemente. É assombroso, mas os aliados de José Serra já adotam o discurso lacerdista abertamente! Há pouco, um deputado federal dessas hostes teve a desfaçatez de afirmar que Dilma Roussef não podia ser eleita e, se eleita, não podia ser empossada.

Há, todavia, dois obstáculos a essa linha de atuação golpista. O primeiro é a vontade popular. O segundo é a inviabilidade de convocar as forças armadas para a empreitada golpista, atualmente. Se, a despeito das evidências, levarem adiante a tentativa – e parece que levarão – teremos uma boa oportunidade de viver a catarse política sempre adiada nesse país do acordo perpétuo.

Sem povo e sem baionetas, convocam-se os juízes, pois que o direito e as pessoas prestam-se a qualquer coisa. São receptáculos sem forma definida, aptos a conterem qualquer conteúdo. Mas, até nesse campo tão sombreado, a empreitada não parece ser tão fácil, porque não são todos os homens de toga que se divertem com a dialética da patifaria jurídica. Uma parcela significativa sabe que a política joga-se em outro campo e depende mais de votos populares que de interpretações enviesadas que podem até afirmar a quadratura do círculo.

12 Comments

  1. Domingos Sávio Maia de Sousa

    Andrei, assino onde? Arretado. No toitiço. A frase embaixo da foto: Carlos Lacerda, patrono da campanha de José Serra vale uma capa da Carta Capital. Parabéns. Dilma Presidente!!!

    • Andrei Barros Correia

      Obrigado, Domingos.

      Tenho achado muito engraçado os udenistas dizendo que a mais recente pesquisa é uma fraude, embora não tenham dito que as anteriores fossem.

  2. Pedro

    Andrei, desculpe-me pela ignorância, onde está a notícia sobre o Deputado que afirmou que Dilma não pode ser empossada?

    • Andrei Barros Correia

      Pedro,

      Agora, não lembro precisamente onde vi a notícia, mas foi o comentário do terceiro turno, nos tribunais.

      • Pedro

        Obrigado, achei na Carta Capital desta semana.

  3. Julinho da Adelaide

    Andrei. Você acerta quando diz que não temos uma direita liberal. Na verdade nunca tivemos. Sequer são ideológicos, no sentido político programático da palavra. E um dos principais motivos é que não temos representações do capital nacional dignos do nome. E na falta de representação falta projeto nacional à nossa direita. E na falta de projeto vicejam a adoção de projetos alienígenas e a cupinização patrimonialista de estado, tudo isso temperado pelo ódio de classes, o ranço escravocrata, o desprezo às regras que eles mesmos criaram para o faz-de-conta, a manipulação grosseira da mídia e principalmente, quando as coisas ameaçam sair do controle, a articulação golpista apoiada, em geral, por um discurso de matriz moralista-farisaica, a defesa da democracia e das instituições e o medo das classes médias de tudo que lhes pareça diferente do padrão romer simpsom com que foram adestrados. A história pode ter-lhes pregado uma peça. O único partido de oposição com viabilidade eleitoral são, em tese, social-democratas. Conforme o governo de centro-esquerda fazia sucesso eles so teriam 3 opções: ou jogava o jogo, apresentando um programa parecido e se apresentava como mais capaz de implementar, enfrentando a história a lhe desmentir, ou se apresentava como à esquerda do governo, o que seria ridículo por incompatível com as forças que o apoiam, ou são empurrados à extrema direita, o que parecem estar fazendo, com todos os riscos institucionais que a escolha envolve, com a possibilidade de destruir definitivamente o já combalido currículo do candidato, e com o risco de aumentar a sua rejeição facilitando as coisas para a situação. Não parece que as condições históricas favoreçam mais um golpe. Temos um presidente “acima do bem e do mal”. O que fará a UDN? Parece a escolha de Sofia. E é.

    • Andrei Barros Correia

      Acho que foste de uma enorme precisão no teu comentário, Julinho.

      Não há alternativa estratégica viável para a campanha de Serra.

      Ele percebeu que se deixar a estratégia a cargo da Gestapo do pessoal da vejas e folhas, perde irremediavelmente.

      Se tentar essa linha de dizer que é de esquerda e que Lula está acima do bem e do mal, arrisca-se no terreno do excesso de desfaçatez.

      Vai ser desmentido por entrevistas, videos e outras coisas que provam exatamente que Serra não é de esquerda. Há farto material mostrando a avidez privatizante do neo-esquerdista Serra. Vai soar ridículo e falso.

      De fato, como apontas, as circunstâncias não favorecem o golpe, mas acho que vão tentar. Afinal, não existe apenas um Gilmar Mendes nos tribunais.

      Mas, também acho que a reação seria imensa. Talvez fosse até bom que isso ocorresse.

  4. Julinho da Adelaide

    Andrei, a simples declaração de Serra dizendo que era de esquerda fez meu vizinho militar quebrar todos os seus discos de Roberto Carlos. Outra dessa e o infeliz endoida!!!!

  5. Julinho da Adelaide

    As diferenças saltam aos olhos. Serra, na falta do que dizer, diz que vai criar o ministerio da segurança pública, Dilma promete criar o ministério do empreendorismo, para fomentar as micro, pequenas e médias empresas e ampliar o emprego. Ou seja, de um lado implantação do verdadeiro capitalismo de mercado, de outro, pau-de-arara e cassetete no lombo da escumalha. É o projeto tucano para o país. Passar a petrobras e o bb nos cobres e passar o pobre no cassete. E a classe média fazer um crediário e ir “harmonizar” um vinho em miami com uma bolsa made in china.

  6. Julinho da Adelaide

    A estratégia “dO Brasil pode mais” é uma tentativa na direção de se apresentar como concorrentes na mesma linha e se diferenciar de alguma forma. Provavelmente alguma pesquisa qualitativa demonstrou que o discurso não tem aderência entre os “não-amestrados” e estão tentando esticar a corda. Talvez quebre. Não acredito. Acho que ela ganha e leva. Temer na vice me preocupa mais. Depois de mm e Alencar, teremos um vice tentado a algum protagonismo. Com o apoio da UDN isso pode dar samba. O samba de uma nota só.

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