A alguns dias atrás, divagamos a respeito do patrimônio histórico da cidade de Campina Grande, retratado por intermédio da arquitetura. Mas o nosso patrimônio vai muito mais além da formosura de nossas construções. Na verdade, acredito muito mais na construção das idéias que fez de Campina Grande a capital do trabalho, além de conferir a nossa cidade outros apelidos. Uma cidade pujante como a Rainha da Borborema sempre se destaca, em qualquer área em que se arvore a desbravar. Assim foi com relação a indústria, o comércio, as empresas de concessão pública, e não podia ser diferente no que se refere ao futebol.
A história de que treze homens se reuniram e formaram um time de futebol já foi cantada por poetas e contada por historiadores. Mas é no campo das idéias que gostaria de me deter neste momento. Usando a existência e longevidade deste time como um paralelo que demonstra a resitência de nossa cultura, sendo versátil sem abrir mão de suas origens. Se a rivalidade entre o Treze e o Bota Fogo, por exemplo, pudesse ser transportada ao velho continente, talvez estivesse no mesmo patamar de outros confrontos, tais como Celtic x Rangers; Manchester x Chelsea; Barcelona x Real Madrid.
Pois nossa rivalidade tabajarina, se traduziu durante muito tempo como sendo a luta o Estado contra o Privado; de quem procurava desconstruir a grandeza de nosso povo, contra alguns que lutavam pela perenização de um ideal; da máquina capenga, contra as ferramentas em mãos hábeis. A cultura que se respira em Campina Grande, tem muito haver com o modo de vida de nossos antepassados. Pela forma como a cidade sempre se posicionou, através de seus filhos, com relação aos avanços da tecnologia. Os filhos de Campina, alguns por adoção, viam as novas tecnologias e as transportavam para cá, impulcionando a cidade que hoje conhecemos.
Pouco a pouco, aqueles que queriam desconstruir nossa história, que queriam minar nossa confiança e orgulho conseguiram o seu intento. Nosso povo, que já foi um POVO, não mais valoriza nossas raízes tropeiras, a nossa arquitetura, a nossa origem caririzeira e nem a memória de grandes personalidades que mudaram o rumo do povoado, que um dia foi distrito de São João do Cariri e que posteriormente transformou-se na locomotiva de nosso estado, durante algumas décadas.
A história de lutas, conquistas e derrotas do Treze Futebol Clube, bem que poderia nos inspirar a uma volta as nossas raízes, um mergulho em nossa história, um banho na civilidade que foi perdida ao longo dos anos em detrimento do ter. Ontem conversando com alguns convivas escutei uma frase que mexeu comigo, e que dizia mais ou menos o seguinte: Quem é, invariavelmente tem, mas que tem nem sempre é. Durante muito tempo nossa cidade foi, e hoje apenas possuí. Já fomos a Sanesa, CELB, Telingra, Politécnica de Engenharia, hoje temos a Cagepa, a Telemar, a Energisa e a UFPB. Entidades sem personalidade. Pois elas não possuem a alma dos desbravadores de nossa terra.
Sejamos como o Treze que hoje comemora 85 anos, e continuemos a nos levantar para impor nosso modelo vitorioso de ser. Parabéns ao Treze Futebol Clube, parabéns aqueles que continuam semeando idéias e ideais, parabéns a nossa resistência que insiste em tentar continuar a ser.
Parabéns ao Treze! 😀
Bom artigo.
Cresci no interior de Pernambuco nos anos 1940/1950 e o meu pai sempre dizia que Campina Grande era uma cidade altiva e de tradição, onde se trabalhava e se ganhava dinheiro para se ir divertir em João Pessoa ou no Recife nos fins de semana…. e no sul ou fora do Brasil nas férias.
Ainda não me acostumei com a intimidade de Olivia e de Andrei de se referirem à cidade simplesmente como “Campina”… para mim sempre será Campina Grande, assim como New York vai sempre ser New York City, como falava um pomposo tio meu, talvez para diferenciar a New York dos USA da New York perto da Barragem de Boa Esperança no Piauí.
Imagino mesmo que um clássico Treze x Campinense seja comparavel a um Atletico de Madrid x Real Madrid; um Treze x Botafogo é mais do que um Real Madrid x Barcelona.
Quanto à mudança dos nomes das intituições, lembro-me de um livro de Vargas Llosa onde ele falava de um regimento do exército do Peru que mudava de nome para a data do mais novo golpe de estado no país… e já estavam perto de acabar com o caledário. Mas não adiantava, o povo se lembrava mesmo era do primeiro nome do regimento.
Sidarta,
Acho que o livro de Vargas Llosa a que te referiste é Pantaleão e as visitadoras. Mas, posso estar enganado, que já faz tempo que o li.
Tenho expectativa de termos boas histórias de Campina Grande, contadas por Luiz, que é grande conhecedor.
Não me lembro bem do ano (acho que foi 1959 ou 1960), quando um vigário de Campina Grande foi nomeado bispo de uma cidade de Pernambuco.
No dia da posse dele como chefe da sua nova diocese, o cortejo solene de ordens religiosas, de seminaristas, de beatos e beatas, e de curiosos e penetras a caminho da catedral, sinos a badalar, topou-se, em sentido contrário na mesma rua, com o enterro de um cidadão de prestígio na cidade e que tinha morrido nos braços de uma amante e, logo, estava excomungado.
Lembro-me vagamente de que ouvi falar na rua que tiveram que negociar a mudança de rota do enterro para uma rua secundária para que o novo bispo passasse sem constrangimento pela rua principal; afinal, o novo bispo, gente boa, tinha sido o vigário de Campina Grande e não era um padrezinho qualquer.